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Em três dias de estadia em Guaíra, o fotógrafo Daniel Castellano já havia registrado dois flagrantes de contrabando de cigarros do Paraguai para o Brasil. Os cigarreiros constituem uma numerosa força de trabalho em Guaíra e Salto del Guaira. Sem eles, não há contrabando. Sem contrabando, param de jorrar milhares de dólares diários na economia local.

No maior shopping de Salto, em um dia de semana de pouco movimento, pergunto a um comerciante onde compro cigarros. De pronto ele me indica uma loja, na avenida principal. Quatro homens conversam no fundo da loja. Estão sentados e tomam tererê, a tradicional bebida paraguaia. Caminho até o grupo, que demora até interromper a conversa. O mais velho deles vem na minha direção. "Quero cigarros", digo, percebendo em seguida a obviedade da frase. Ali só existem cigarros. "Sim. Qual deles?"pergunta ele em português com um mínimo sotaque espanhol. Eu nunca negociei caixas de cigarro na vida. Sequer fumo. Procuro pela primeiro nome que está por ali. "Fox", respondo.

Ele faz que sim com a cabeça e bate com a mão em uma das caixas. "Está U$S 85 a caixa. Dependendo da quantidade, fazemos por até 82", diz. Pergunto o preço de outras marcas. Estão todas na mesma margem. Comprar uma caixa de cigarros não é crime. Comprar cigarros não é contravenção desde que não se ultrapasse a cota da Receita Federal. Digo que quero entre 50 e 100 caixas e chego ao ponto: "Como passo essas caixas para o lado brasileiro?"

Ele pergunta em que cidade estou e quanto tempo mais fico na região. Digo que estou em Guaíra e pretendo ficar mais uma semana. É uma segunda-feira. Ele diz que até sexta consegue me passar as caixas do lado de lá do rio, em solo brasileiro. "O barqueiro é meu, mas entrego no porto que você quiser, aí é com você", diz ele. Pergunto quanto isso me custa. "Vinte reais por caixa. É o que ele cobra (o barqueiro)", responde. "Como é seu nome e como te acho?"

"Me chamam de Peixe. Peixe do rio", diz ele, que me entrega um cartão com dois telefones e um endereço de msn. Digo que ligo e me despeço. Toda negociação dura dois, três minutos. Mais tranqüilo que comprar memória para computador. Sem sobressaltos, sem códigos ou encontros secretos que, em teoria, seriam necessários para se planejar um ato ilícito. Peixe dá um sorriso e volta para o grupo e seu tererê.

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