Checar a validade de um alimento antes de consumir é uma atitude muito simples, mas uma grande parcela da população ignora essa informação. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 30% da população mundial tem pelo menos uma intoxicação alimentar a cada ano. Segundo especialistas, uma parte desses casos poderia ser evitada se os consumidores respeitassem o prazo determinado pelo fabricante.
O gastroenterologista da Universidade Federal do Paraná Júlio César Pisani explica que ao consumir um alimento vencido o consumidor está se expondo ao risco de contrair uma intoxicação, que em alguns casos pode ser grave. "Vai depender da agressividade da bactéria. Geralmente, o paciente tem diarréia, vômito e pode ficar desidratado e fraco, precisando em alguns casos até de internamento", afirma.
O prazo de validade é responsabilidade do fabricante e determinado com base em parâmetros científicos. Embora alertem para a importância de verificar o prazo estipulado, os especialistas são unânimes em dizer que a validade é um período estimado e que pode ter variações de acordo com as condições nas quais o produto é submetido. "Os cuidados que o alimento recebe no supermercado ou na casa do consumidor vão determinar o tempo que vai resistir antes de estragar", explica a nutricionista Ana Tereza Gebran, do Hospital Vita. Segundo ela, é fundamental que sejam seguidas as orientações da embalagem. "Se diz que o produto precisa ser refrigerado e você deixa ele passeando no carro depois de ir ao mercado, com certeza já vai ter algumas características alteradas e por isso pode durar menos", alerta. A nutricionista chama a atenção também para a forma como o alimento será guardado em casa. "É importante, depois que abrir o produto, colocá-lo em algum recipiente vedado ou fechar corretamente a embalagem para que não tenha contato com o ar. Isso dificulta a proliferação das bactérias", explica. Uma forma de preservar a saúde, é sempre colocar no novo recipiente uma etiqueta com a validade que constava na embalagem.
Para evitar contaminações, o ideal é respeitar a data de validade, conservar adequadamente e observar características como aparência, odor e gosto. O perigo é que nem sempre um alimento que sofreu a proliferação de bactérias tem seu aspecto visual alterado. Segundo a nutricionista, produtos derivados de leite e as carnes estão entre os que apresentam maior risco de contaminação. "Os alimentos perecíveis, que geralmente são mais molhados, são mais sujeitos à ação das bactérias. Mas isso não significa que os alimentos não-perecíveis, como arroz e açúcar, não estraguem também", diz.
Em geral, quanto mais processado for o produto, maior o tempo de validade. De acordo com a professora do curso de Engenharia de Alimentos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Márcia Rapacci, os alimentos esterilizados, como leite de caixinha, sucos e bebidas à base de soja, são comercializados na temperatura ambiente porque são submetidos a um tratamento térmico severo durante o qual são destruídos todos os microrganismos. "Não sobrevive nenhuma célula capaz de se desenvolver no produto durante a vida de prateleira", afirma. Já os alimentos como queijos e produtos cárneos, como presunto, lombo, peito de franco e lingüiças, são submetidos a um tratamento térmico mais brando. "Na pasteurização o objetivo principal é a destruição de todos os microrganismos patogênicos (causadores de doenças) e parte dos microrganismos deterioradores. Neste caso, os alimentos devem ser mantidos sob refrigeração porque a pasteurização não foi suficiente para destruição de todos os microrganismos", explica.
Entretanto, não é apenas o risco de intoxicação que deve ser levado em conta na hora de evitar o consumo de alimentos fora do prazo de validade. Para o biomédico Roberto Figueiredo, o Dr. Bactéria do quadro Tá Limpo!, do programa Fantástico da Rede Globo, é importante pensar nas características nutricionais. "Quando você come alguma coisa está buscando nutrientes e um alimento vencido perde essas propriedades", explica.
