O que até cinco anos atrás não existia no ensino superior brasileiro a globalização está fazendo virar uma exigência. No Paraná, duas universidades públicas saíram na frente na oferta do duplo diploma, seguindo uma tendência internacional que começou na Europa em 1999. Metade do curso é feita no Brasil e a outra, numa instituição do exterior. O diploma de graduação é assinado pelas duas faculdades e tem validade nos dois países.
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), antigo Centro Federal de Educação Tecnológico do Paraná, (Cefet-PR), foi a pioneira no estado a oferecer o programa. A UTFPR ampliou o convênio de intercâmbio firmado em 2002 com a Universidade de Tecnologia de Compiègne (UTC), na França, para oferecer a dupla diplomação aos alunos de Engenharia Mecânica. A Universidade Federal do Paraná (UFPR), que firmou, em outubro do ano passado, convênio com a mesma instituição francesa, deve selecionar neste ano dois alunos, também do curso de Mecânica, para participar do programa de dupla diplomação.
"O programa se caracteriza pela implementação da experiência e melhoria da conceituação dos nossos alunos. Os estudantes que participam dele vão enriquecer sua vivência acadêmica e melhorar a qualidade de sua formação", diz o pró-reitor de ensino da UTFPR, Carlos Eduardo Cantarelli. Segundo ele, a instituição tenta estabelecer novos convênios com outros países, como a Alemanha, para expandir a oferta a outros cursos, mas uma das dificuldades é adaptar os currículos. Os convênios prevêem a troca de estudantes entre os dois países, ou seja, além dos brasileiros irem para lá, os estudantes estrangeiros também podem vir para cá. Por isso o currículo precisa ser adaptado para que seja complementar ao que se ensina no exterior.
Por enquanto, o Brasil mais mandou do que recebeu alunos. A UTFPR não recebeu nenhum estrangeiro, mas já enviou sete estudantes para duas instituições diferentes na França. Alguns deles estão voltando este ano para o Brasil. O período mínimo de permanência é de dois anos, podendo ser prorrogado por mais tempo, dependendo do desempenho do estudante. A permanência, entretanto, pode ser limitada pela questão financeira. As universidades têm liberdade de oferecer o duplo diploma sem autorização prévia do Ministério da Educação (MEC), mas dependem das bolsas oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao órgão federal, para financiar seus alunos.
Rodrigo Wesley Sanches Borges, 22 anos, acabou de voltar de Compiègne. Sem conseguir uma bolsa, dependia dos pais para se manter durante os dois anos que estudou no ITC. Um gasto mensal de 500 euros, ou R$ 1.330,00. Márcio Mattos, que estudou durante dois anos na Universidade de Truyes, na França, viveu a mesma situação. "A falta de bolsas específicas pode impedir muita gente boa de ir para lá", avalia.
O reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, explica que uma universidade pública não tem como destinar recursos para patrocinar a ida de estudantes brasileiros para fora. Por isso a intenção é buscar instituições internacionais que ofereçam algum tipo de bolsa. O coordenador de Engenharia Mecânica da UFPR, Carlos Siqueira, lembra que, das quatro bolsas da Capes a que o curso tem direito, duas serão destinadas aos estudantes que quiserem participar do programa do duplo diploma. De acordo com o reitor, a bolsa foi reforçada por meio de um convênio com a Agência Francesa de Ciência e Tecnologia e inclui a passagem de ida e volta para a França, mais 12 parcelas no valor de 600 euros, mais 600 euros para instalação e mais 400 euros como auxílio-saúde.
Para Rodrigo, a principal vantagem do programa de dupla diplomação é justamente o tempo de permanência. "Somente após o primeiro semestre de estudos estamos realmente preparados, com um bom nível de francês, para desfrutar o que a universidade pode nos oferecer", explica. Além disso, na Europa, o futuro engenheiro pôde constatar que a internacionalização do diploma já é uma realidade entre as instituições de lá. "Na universidade onde estudei (UTC) muitos estudantes, alemães e italianos principalmente, participavam de programas de dupla diplomação", conta.



