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Juventude

Copo na mão aos 16 anos

Pesquisa com estudantes mostra que o álcool entra cada vez mais cedo na vida dos jovens brasileiros

Hábitos de consumo de bebida alcoólica entre jovens devem pautar ações preventivas sobre danos do vício | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Hábitos de consumo de bebida alcoólica entre jovens devem pautar ações preventivas sobre danos do vício (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)
Veja tabela com percentual de adolescentes que consomem bebidas |

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Veja tabela com percentual de adolescentes que consomem bebidas

O primeiro contato dos jovens com a bebida tem acontecido muito cedo e o hábito de beber está se fixando a partir dos 16 anos, em oposição ao que prevê a legislação brasileira – 18 anos. Oito para cada dez jovens menores de idade consomem álcool. Essas são algumas das conclusões de uma pesquisa realizada pelo Portal Educacional, em parceria com o psiquiatra Jairo Bouer. Na pesquisa, 12 mil estudantes de 96 escolas de todo o Brasil responderam, de forma anônima, o questionário on-line sobre o tema.

Para Andrea Maia de Santana, gerente da Área de Projetos da Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática, a pesquisa partiu de uma necessidade das próprias escolas. "Foi uma demanda deles e a garantia de que as respostas seriam anônimas gerou um resultado muito bom entre os alunos", diz. Segundo Andrea, o próximo passo é utilizar as respostas para tratar da prevenção do álcool nas escolas.

"A pesquisa confirma os estudos feitos sobre o consumo de álcool entre os jovens no Brasil e no mundo e aponta para a necessidade de se discutir essas questões de forma mais séria. O jovem precisa aprender os riscos e impactos do consumo abusivo de álcool", diz Bouer. E a ação preventiva precisa começar muito cedo. A pesquisa mostra que pelo menos metade dos adolescentes até 13 anos admite já ter bebido.

Alguns grupos parecem ter chance maior de ter problemas com o consumo de bebida. São eles: filhos de pais que nunca viveram juntos, jovens que têm relação ruim ou péssima com os pais em casa, famílias em que pai e mãe bebem demais, jovens e famílias que não seguem uma religião, alunos com péssimo desempenho na escola e que faltam demais às aulas.

Para especialistas, os dados confirmam uma realidade cada vez mais preocupante. De acordo com o estudo, em 40% dos casos o primeiro gole ocorre em casa ou na casa de familiares. "Estamos falando de um comportamento aparentemente inofensivo. Mas o pai abre uma garrafa de vinho durante a refeição e pode despertar a doença do álcool no filho", diz o membro da Pastoral da Sobriedade, José Augusto Soavinski.

Quase 15% dos jovens também mostraram que pai, mãe ou ambos bebem excessivamente. "O lar é uma metáfora de segurança. Tudo que existe em uma casa é, para as crianças e os jo­­vens, sinônimo de ‘sem perigo’. Quando um jovem experimenta álcool em casa pela primeira vez, ele considera um estímulo ao consumo", afirma Albert Frie­sen, psicólogo, doutor em ciências da religião e especialista em terapia familiar.

Ele cita como exemplo o livro Filhos do divórcio, de Judith Wal­lerstein, em que é relatado o acom­­­panhamento de famílias depois da separação. A pesquisa foi feita ao longo de 25 anos e comprova que os filhos destas famílias são mais suscetíveis ao vício.

"As pessoas que têm pais separados, de alguma forma sofrem mais nas emoções. Têm, especialmente, menos limites e fronteiras. A lógica é que se dá pra sair do casamento, mesmo que se tenha prometido fidelidade até a morte, significa que limites não são exatamente necessários."

Relação

O estudo também estabelece relações entre álcool e drogas mais pesadas. Quase 20% dos entrevistados já fumaram cigarros. Dos que já fumaram, 32% dizem ter mais vontade de fumar depois de beberem. Situação semelhante ocorre com a maconha: 8% dos entrevistados dizem já ter fumado maconha e, destes, 28% dizem ter mais vontade de fumar depois que bebem.

Soavinski, que há 20 anos dá palestras sobre os riscos do consumo do álcool em escolas, diz que é inegável o fato de que o álcool é porta de entrada para outras drogas mais pesadas, como a cocaína. "É uma sequência. Primeiro as [bebidas] fermentadas, depois as destiladas. O jovem segue e acaba nas drogas estimulantes. O responsável pela epidemia de crack que vivemos em Curitiba é o álcool. Quem começa a beber não sabe onde pode parar. O problema é progressivo, perigoso e pode ser fatal", alerta.

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Cartilha do governo vai ajudar educadores

A Secretaria de Estado de Edu­cação (Seed) finalizou há poucos dias uma publicação destinada a instruir educadores e professores no combate ao uso de álcool e outras drogas. Se­­gundo o chefe da coordenação de De­­safios Educacionais Con­temporâneos, Sandro Cavalieri, a publicação deve começar a chegar às escolas públicas nos próximos dias. "Vamos ter artigos científicos, indicação de sites e material para quem lida diariamente com esses problemas", explica.

Cavalieri afirma que o uso prematuro de álcool é uma realidade constantemente enfrentada pelos colégios públicos, mas ressalta que a questão não pode ser vencida só pelos colégios. "Temos oficinas de formação continuada aos sábados, para que professores, diretores e pedagogos discutam o tema. Mas é um problema social. Quando o adolescente entra nessa área de risco é preciso a mobilização dos profissionais de saúde, família, conselho tutelar, um esforço de toda sociedade, em rede."

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