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Drogas

Crack não dá trégua às crianças

Filhos de pais dependentes químicos são entregues à própria sorte. Ou ficam sob a tutela de alguém da família, ou se veem encaminhados para abrigos e até adoção

Crianças da Casa de Acolhimento Pequeno Cidadão brincam de dominó: metade dos abrigados estão ali por causa do crack | Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
Crianças da Casa de Acolhimento Pequeno Cidadão brincam de dominó: metade dos abrigados estão ali por causa do crack (Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo)

Os efeitos devastadores do crack não dão trégua nem aos recém-nascidos. Os filhos de pais dependentes de uma das drogas mais destruidoras que existem ficam entregues à própria sorte. Alguns se veem sob a tutela de alguém da família, outros acabam sendo encaminhados para abrigos e até para a adoção. No Paraná, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem quase três mil crianças em 131 abrigos. A estimativa é de que mais de 50% destas crianças sejam filhos de pais dependentes químicos.

"A maior parte está relacionada ao uso de drogas, especialmente o crack", diz o presidente do Conselho Estadual Antidrogas, Carlos Alberto Peixoto. Para se chegar a um número concreto sobre o número de crianças abandonadas por causa do crack será realizado um levantamento em parceria com as universidades estaduais. O resultado deve ser divulgado até o final do próximo mês. "Com isso, teremos capacidade para traçar planos de ações mais eficazes. Nossa ideia é ter uma central de tratamento à mulher dependente, especialmente às gestantes", informa.

Herança trágica

Enquanto projetos sobre o assunto são analisados, as crianças sentem de perto a dura realidade provocada pelo vício nas drogas. A herança de uma família desestabilizada pelo crack pode culminar em um final trágico. Na Casa do Acolhimento Pequeno Cidadão, localizado no Jardim Social, em Curitiba, dois recém-nascidos morreram recentemente pelo fato de as mães terem feito uso do crack durante a gestação. Ambos nasceram com hidrocefalia (água no cérebro), ficaram um mês internados em unidades de terapia intensiva e, posteriormente, foram encaminhados à instituição.

Apesar dos esforços no tratamento, um morreu após 70 dias de vida e outro depois de 94 dias. "Estes foram os casos mais graves provocados pelo crack que recebemos", afirma a diretora do abrigo, Sônia Scutlarek Ferreira.

Por outro lado, há crianças que, apesar de sofrerem com os efeitos colaterais do entorpecente – mesmo sem nunca o ter utilizado –, conseguem a duras penas reverter o processo. Um bebê de um ano e nove meses, que ingressou no abrigo em estado grave, já está sob tutela temporária de uma funcionária da própria instituição. O processo de adoção se encontra em andamento.

Atendimento

Sônia explica que ao receber um bebê, cuja mãe é dependente química, é necessário realizar um tratamento médico específico. "A gente leva para unidades de saúde e hospitais para que o atendimento aconteça", explica. Os pais, cujas crianças estão abrigadas por determinação judicial, podem visitar os filhos todo domingo. Segundo a diretora do abrigo, a maioria das mães, que deram à luz a estas crianças, encontra-se internadas para livrar-se da droga.

"A grande maioria tem chance de voltar à guarda da mãe depois que o tratamento for concluído. Claro que, para isso, é realizado um monitoramento de como está a situação da família e como a criança está sendo tratada", explica Sônia.

Além de atender filhos de dependentes químicos, a instituição também abriga crianças até 12 anos que sofreram abusos sexuais ou foram abandonadas pela família por outras razões. Curitiba possui oito instituições ligadas à Fundação de Ação Social (FAS) que realizam trabalho semelhante.

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