O município de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba (RMC), tem hoje o tamanho de um bairro de Curitiba. Mas, pelas projeções traçadas pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), será uma das sete maiores cidades do estado em 2020. Em relação aos 62 mil habitantes registrados pelo Censo de 2000, a população do município deverá crescer quase seis vezes até 2020, atingindo a marca de 356 mil moradores.
A projeção faz parte de um estudo desenvolvido pelo Ipardes a partir dos dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo de 2000. Reportagem publicada ontem pela Gazeta do Povo mostrou que, pelo estudo do Ipardes, a região metropolitana de Curitiba terá quase 5 milhões de moradores em 2020. Entre as cidades da RMC, a maior taxa de crescimento deverá ser registrada em Fazenda Rio Grande 467,6%. Nos próximos 13 anos, pela projeção do Ipardes, o Paraná deverá ganhar mais 1,62 milhão de habitantes.
Cidade-dormitório
A razão para a explosão demográfica anunciada em Fazenda Rio Grande não tem relação com o desenvolvimento econômico local. Vastas extensões de terra e a distância de apenas 20 quilômetros do centro de Curitiba são os ingredientes para transformar o município em uma "cidade-dormitório". "Se não rediscutirmos as questões básicas de transporte coletivo, saúde, educação e segurança, vai ser o caos", prevê o prefeito Antônio Wandscheer, que também é presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba (Assomec).
Para Wandscheer, o principal indicativo de problemas futuros é a disparidade na arrecadação de cada município da RMC. "Nós sentimos uma forte pressão social. Como vamos resolver isso?", questiona. O prefeito defende medidas que tragam aumento de receita, como a instalação de indústrias e a redistribuição de impostos arrecadados regionalmente.
Por enquanto, a integração com outras cidades da RMC só é vista no sistema de transporte coletivo. Diariamente, 23 mil pessoas saem de Fazenda Rio Grande para trabalhar em outros municípios. Para Wandscheer, a discussão dos problemas da RMC deve ser feita coletivamente.
Alcidino Bittencourt Pereira, diretor da Coordenação da Região Metropolitana (Comec), órgão do governo do estado, diz que o planejamento já é integrado e cita como exemplo o consórcio de depósito de lixo. Mas reconhece que a perspectiva de crescimento aponta para mais desigualdades. "Esse processo de conurbação (encontro ou junção da área urbana de duas ou mais cidades) é irreversível. A tendência de concentração é brasileira, mas por aqui acontece em taxas maiores. Não é uma catástrofe, se desenvolvermos o conceito de cidadania metropolitana", enfatiza.
Pereira discorda do Ipardes em um ponto. Ele não acredita na explosão demográfica de Piraquara, que chegaria a cerca de 372 mil habitantes até 2020. "Não se confirmará por conta das restrições ambientais e legais", avalia. Por ter grande parte do território em áreas de manancial, haveria limites para a instalação de vários tipos de indústrias e loteamentos. "Se não fosse a legislação ambiental, estaríamos loteando até a Serra do Mar", pondera o diretor do Comec.
Professor do mestrado de Organizações e Desenvolvimento na UniFae, Christian Luiz da Silva não está tão certo de que as medidas para minimizar os impactos já começaram a ser tomadas. "As ações são muito primárias na integração. As prefeituras ainda têm ações individualizadas", acredita. "A percepção de qualidade de vida já é menor do que era no início dos anos 2000. Mesmo que a projeção não se confirme e a RMC tenha 4 milhões em 2020, mesmo assim não estará preparada para essa demanda", avalia.
O economista acredita que Curitiba está sofrendo os efeitos diretos da superlotação e que os municípios do entorno não têm meios para suportar esse crescimento. A principal alternativa para estancar o processo de conurbação seria manter o desenvolvimento em outras regiões do estado, com o deslocamento dos potenciais econômicos.



