
O crime organizado tem mais do que o dobro de armas que as forças policiais no Brasil. Essa é uma das constatações de um mapeamento completo sobre armas leves no país, feito pela organização internacional Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra e pela organização não-governamental Viva Rio. Segundo o levantamento, o Brasil tem 17 milhões de armas de fogo em circulação, o equivalente a quase uma a cada dez habitantes. O maior problema é que 56% delas são ilegais ou estão sem o devido porte de arma.
Grupos criminosos mantêm um arsenal impressionante de mais de 5,3 milhões de armas. Muito maior que o da polícia (militar, civil e federal), que tem apenas 2,1 milhões. Oficialmente, as empresas de segurança privada teriam outras 301 mil armas em mãos de forma legal. As estimativas foram obtidas por meio de cálculos a partir de operações, registros e produção.
A constatação do levantamento é considerada pelos especialistas como "assustadora". O país tem aproximadamente 9,5 milhões de armas ilegais e sem porte em circulação no país. Segundo as entidades, por culpa de um "registro pobre e inadequado das armas leves" no país.
Mais da metade do armamento no Brasil está em mãos civis. Em Brasília estaria a maior incidência de armas por habitante, entre 19 e 28 para cada 100 habitantes. São Paulo teria uma taxa entre 9,5 e 19 para cada 100 pessoas.
Indústria
O estudo ressalta ainda que, apesar das leis existentes no Brasil limitando a venda de armas, a fabricação desenfreada desses produtos tem gerado lucros milionários para as indústrias nacionais. O país, nos últimos anos, se transformou no segundo maior produtor de armas leves do Hemisfério Ocidental, superado apenas pelos Estados Unidos.
O levantamento também chega a uma conclusão que desmonta o argumento do lobby das armas no Congresso Nacional. Grande parte das armas usadas por criminosos no país para matar e ameaçar brasileiros são fabricadas no próprio país.
Segundo o levantamento, a indústria de armas leves no Brasil está "em plena expansão". "As armas usadas no Brasil pelo crime são em sua maioria produzidas domesticamente, não importadas como argumenta o lobby da indústria de armamento", alerta o estudo.
A constatação dos especialistas, portanto, é que a indústria nacional simplesmente não foi afetada pelo Estatuto do Desarmamento adotado em 2003 e continua vendendo, ao contrário do que tentava argumentar há sete anos quando a lei foi à votação. "A produção de armas leves no Brasil cresceu de forma exponencial na última década em que se identificou um aumento da violência", alertaram as entidades, que apontam a Taurus como a "joia da coroa" da indústria de armas no Brasil.
Particulares
Segundo o levantamento, 72% das armas letais em circulação no Brasil estão em mãos de pessoas físicas ou de empresas de segurança privada. Para os especialistas, portanto, a indústria nacional em expansão complica o trabalho de garantir um controle de armas. Hoje, a produção de armas leves no Brasil movimenta US$ 100 milhões.
Uma das formas reveladas pelo estudo internacional para introduzir armas no mercado brasileiro é a exportação desses produtos para o Paraguai. Com apenas 6 milhões de habitantes, o país vizinho havia se transformado nos anos 90 no segundo maior comprador de armas do Brasil. Armamento que depois voltava ao mercado nacional, sem registro.




