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Eleição

Crise no campo tirou votos de Lula

Curitiba – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu a eleição no último domingo, mas saiu derrotado nos estados em que o agronegócio tem forte papel na economia: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Roraima e São Paulo. O setor enfrenta crise por causa da queda nas exportações, afetadas pela política cambial que valorizou o real em relação ao dólar.

A crise no campo então seria a explicação para a derrota de Lula nesses estados? Para Adriano Nervo Codato, professor de Ciência Política da Universi-dade Federal do Paraná (UFPR), sim. Codato afirma que a crise do agronegócio se expressa como "antigovernismo". Afetando inclusive a eleição estadual. No Paraná, o governador eleito, Roberto Requião, perdeu nas regiões agrícolas do estado. Segundo o professor da UFPR, o fenômeno é dividido em três dimensões: econômica, política e ideológica. "O problema do câmbio, com baixos preços para exportar; o problema da política monetária, com altos juros para tomar emprestado e investir; e o problema do emprego, que causa um baixo índice de criação de empregos formais no setor, alimentam e ampliam o descontentamento do eleitor. Pequenos, médios e grandes proprietários rurais votam então contra o governo, sem diferenciar se estadual, se federal", diz Codato.

"Os estados onde Lula perdeu são regiões produtoras de grãos. O reflexo da falta de uma política agrícola adequada e de apoio aos produtores fez com que os agricultores ficassem muito insatisfeitos com o governo Lula", afirma Ricardo Caldas, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, UnB. Segundo ele, isto refletiu na saída do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues no ano passado. "Os agricultores se tornaram muito críticos do governo. Prova disso foi a derrota de Lula nesses estados. Inclusive em alguns deles, o candidato pró-Lula ganhou. Em outros, o governador fez campanha abertamente para o Lula, como foi o caso do (Blairo) Maggi, no Mato Grosso, mas os eleitores não votaram em Lula", diz Caldas.

Para reverter a falta de apoio dos eleitores do campo, o presidente Lula terá de criar uma política agrícola que agrade ao setor no seu segundo mandato. "Lula terá de apresentar medidas concretas na área agrícola. A questão cambial está afetando os produtores agrícolas, tanto o pequeno como o grande", alega Ricardo Caldas.

Além da crise no campo, outro fator que pode ter interferido na votação de Lula, de acordo com Valeriano Costa, cientista político da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, foi o desgaste do Partido dos Trabalhadores em alguns dos estados onde o presidente perdeu nas urnas. O PT governou o Rio Grande do Sul por quatro anos e a prefeitura de Porto Alegre por 16 anos. Comandou a prefeitura de São Paulo e o estado do Mato Grosso do Sul. "Em algumas desses estados, os eleitores já experimentaram um governo petista. Há um desgate que acabou refletindo na candidatura de Lula. No Nordeste, o PT ainda é novidade", opina Costa.

Governabilidade

Com a conquista de mais votos e mais governadores apoiando, Lula deve ter um segundo mandato mais tranqüilo. No Brasil, a questão numérica acaba ajudando mais na governabilidade do que a ideológica.

Para conseguir colocar seus projetos em prática, o presidente terá de costurar uma forte aliança no Congresso Nacional e o apoio de 16 governadores eleitos pode facilitar os acordos políticos.

"A senha para seduzir os governadores é o diálogo e esse movimento em direção aos governadores tem um significado adicional: é a forma de tentar fugir das maiorias instáveis na Câmara Federal, conseguidas no primeiro governo, agora o sabemos, graças à mesada para os deputados", afirma Adriano Codato, da UFPR.

O que parece certo é que o presidente já sinalizou que está aberto a negociações e que, ao contrário de 2002, será mais caridoso com os aliados.

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