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Consumo

Cuidado: o ladrão pode ser o vizinho

Ligações clandestinas, antes restritas à periferia, chegam a condomínios de classes média e alta

Vídeo | TV Paranaense
Vídeo (Foto: TV Paranaense)

Geralmente localizadas em áreas de ocupação irregular ou entre a população de baixa renda, as ligações clandestinas – os populares "gatos" – já atingem as classes média e alta. Furtos de sinal de tevê a cabo, energia, água e telefone, antes restritos à periferia, são encontrados também em bairros nobres de Curitiba.

Há dois anos o empresário Manoel Garcez, que mora em um apartamento no bairro Alto da Glória, em Curitiba, começou a ter problemas no sinal da televisão a cabo. "Durante três meses, a imagem ficava sumindo", conta. O empresário acionou a operadora e constatou que o vizinho tinha feito uma ligação clandestina.

"Isso ocorre mais em áreas de invasão, mas há empresas que fazem (em bairros nobres) com certeza. Não é raro", diz o delegado Marcus Michelotto, da Delegacia de Estelionato e Roubo de Cargas. A prática é caracterizada como furto, com punição de um a quatro anos de detenção, de acordo com o delegado.

Não é de hoje que os índices de furto de sinais de tevê por assinatura preocupam as prestadoras do serviço. Segundo o Sindicato das Empresas de Televisão por Assinatura (Seta), o índice de pirataria no setor é, em média, de 14%, o que corresponde a 275 mil domicílios no Brasil. "Há pirataria na classe A, nas classes B e C, mas, felizmente, vem diminuindo", afirma um dos diretores do Seta, Antônio Salles. Ele calcula que, em anos anteriores, a fraude atingia em algumas regiões 40% dos usuários formais.

Para Salles, como a infração na tevê por assinatura geralmente é feita por um profissional, o infrator precisa ter certa renda para pagar pelo serviço. A "ajudinha" tornou as fraudes mais sofisticadas. Uma operação que o Seta está mapeando é a instalação de centrais de televisão clandestinas em condomínios: poucos moradores compram assinaturas de tevê fechada e a ligação é feita para todos os apartamentos. "Há condomínios que acreditam ser uma atividade legal", diz Salles.

Clonagem

Outro "gato" sofisticado trata-se da clonagem do celular. Ao clonar um aparelho, os falsários usam a linha para fazer ligações gratuitamente. A conta é paga pelo assinante da linha original. Com a tecnologia digital, no entanto, a prática está se tornando menos comum. "A tendência é diminuir com o GSM. A tecnologia possui camadas de criptografia que ainda não foram quebradas", explica o gerente de operação da Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações (ABR Telecom), Wilker Passagli. No primeiro trimestre deste ano, a Anatel recebeu 662 reclamações por clonagem de celular.

Água e luz

Menos complexas que uma ligação de tevê a cabo ou a clonagem de um celular, as ligações clandestinas de água também preocupam nos bairros nobres. "Encontramos tanto em alto padrão como em áreas de ocupação irregular", afirma a gerente da unidade de clientes especiais da Sanepar, Rita de Cássia Gorny Becher. Já com relação ao furto de luz, a Copel informa que os casos são raros em regiões mais abastadas, pois contam com alto índice de urbanização.

Em abril, a Sanepar identificou em Foz do Iguaçu, por exemplo, um condomínio comercial de classe média que roubava água. Dos 22 estabelecimentos que funcionam no local, apenas dois tinham medição individual, com consumo compatível à atividade. Em Foz, onde são identificadas 30 ligações clandestinas por mês, a Sanepar calcula um prejuízo mensal de R$ 400 mil com esse tipo de infração. O número cresce na região metropolitana de Curitiba. Foram detectadas 844 fraudes em março.

A gerente da Sanepar conta que, para evitar o "gato" na população de baixa renda, são feitas campanhas de divulgação dos benefícios, como a tarifa social, em que o usuário de até 10 metros cúbicos de consumo paga R$ 5, mais R$ 2,50 pelo tratamento de esgoto. Na classe alta, no entanto, Rita diz que a única maneira é intensificar a fiscalização. No total, 350 profissionais da Sanepar vão diariamente a campo combater a fraude, que gera uma perda de cerca de 6% da água distribuída.

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