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Educação

Cultura da cola escolar é diferente em cada país

Enquanto no Brasil são raros os alunos punidos quando são pegos colando em provas, em outros países a prática é condenável

“Outra diferença das escolas brasileiras são as carteiras. Lá [Alemanha] elas não têm nada escrito, são limpas.Bárbara Fabre, que estudou um ano na Alemanha | Gilberto Abelha / Jornal de Londrina
“Outra diferença das escolas brasileiras são as carteiras. Lá [Alemanha] elas não têm nada escrito, são limpas.Bárbara Fabre, que estudou um ano na Alemanha (Foto: Gilberto Abelha / Jornal de Londrina)

Terror dos professores, a cola é uma espécie de prática institucionalizada nas escolas brasileiras. Apesar de punir poucos que são pegos no ato fraudulento, trapacear durante um teste parece ser considerado "normal" e rotineiro e não chega a ser tratado como um problema. Em outros países, no entanto, a cola nas escolas é altamente condenável.

Bárbara Fabre estudou por um ano na Alemanha, onde as escolas são bem mais rigorosas nesse assunto. "O risco que se corre colando é muito grande porque lá não existe a chance de recuperação como no Brasil", explica. As conversas entre os alunos naquele país são proibidas até mesmo durante as aulas. "Eu sofria muito nas aulas porque os colegas nem mesmo podiam me ajudar com a tradução", conta.

Segundo ela, nas aulas, os alunos alemães se sentam em grupos de quatro ou cinco em uma mesa. Nas provas, no entanto, todos sentam em carteiras separadas e afastadas. "Outra diferença das escolas brasileiras são as carteiras. Lá, elas não têm nada escrito, são limpas", explica Bárbara, fazendo referência às colas que os alunos brasileiros transcrevem na própria carteira.

No Canadá, o hábito de colar nas avaliações também não é corriqueiro como no Brasil. Pedro Henrique Santos estudou lá durante um ano e não se lembra de ter visto qualquer atitude desse tipo durante as provas. "Eu até vi alunos combinando cola antes da prova, mas na prática nunca vi nada." Segundo ele, lá as avaliações são mais fáceis do que no Brasil, o que talvez justifique o comportamento dos estudantes.

Já na Finlândia a cola parece ser tão presente nas salas de aula quanto no Brasil. O finlandês Jiri Lilja está há 11 meses estudando em Londrina e não vê diferenças nos recursos usados pelos alunos dos dois países para colar nas avaliações. "É como aqui, mas na Finlândia os alunos não são pegos pelos professores com muita frequência", compara.

Rigorosidade

Ao longo de sua formação acadêmica, a psicopedagoga Rosa Maria Junqueira Scicchitano estudou na Bélgica e nos Estados Unidos. No primeiro país, ela diz nunca ter ouvido falar sobre a cola. Entre os norte-americanos, a prática da cola é fortemente censurada. "Nos Estados Unidos, constatei que a cola é culturalmente condenável, mas existe", conta.

Rosa, que é doutora em psicologia escolar e coordena o curso de especialização em Psicopedagogia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), concorda com o ponto de vista predominante nos Estados Unidos. "Acho muito bom que seja marcada como uma coisa feia e errada. Mas aqui, no Brasil, arrisco dizer que não é visto como um problema. Parece que é natural", avalia.

De acordo com o professor Vicente Martins, mestre em política educacional, os Estados Unidos e boa parte dos países da Europa seguem uma tradição muita rígida de ensino. "Eles pagam um preço alto por isso, com a violência nas escolas. O aluno é reprovado, vai para casa, pega uma arma, volta e atira em todo mundo", afirma.

Para ele, a cola tem um papel social importante e a repressão à cola estabelece uma espécie de segregação. "Mais do que o acúmulo de capital que esses países valorizam, é importante o respeito ao outro. E eles não são exemplo disso", pondera.

Prova com consulta é uma alternativa

A cola nas escolas é vista pelo mestre em política educacional Vicente Martins como uma manifestação da liberdade de aprender do aluno. O professor toma como base o princípio de ensino da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional, que preconiza a liberdade de ensinar e de aprender. "A escola tende a dar foco na memorização e o valor da nota é dado pelo acúmulo da memória, o que não é aprendizagem", explica.

Martins sustenta que onde há transparência, não há clandestinidade. A cola consentida, segundo ele, é um procedimento que pode ser normatizado a partir de um acordo. "A escola já não é mais o reduto de transmissão do conhecimento. Os alunos têm vários canais e o papel do professor agora é mediar isso", afirma. A avaliação, para ele, deve resultar do acompanhamento diário e levar o aluno a desenvolver a capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimento. "Consultando livros e anotações feitas anteriormente, o aluno está estudando e aprendendo", explica.

Com o consentimento da consulta durante as avaliações, Martins acredita criar um ambiente propício para a discussão e a interação entre os alunos e desses com o professor. Além disso, os alunos deixam de se sentir tensos na realização das provas.

O professor reforça que a escola não precisa mudar técnicas tradicionais, que, segundo ele, são importantes. "A cópia e o ditado, por exemplo, são procedimentos neurológicos muito eficientes para a formação do aluno", explica.

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