
Antibióticos são medicamentos importantes, que restabelecem a saúde e salvam vidas. Mas, como qualquer remédio, podem causar efeitos colaterais indesejados e extremamente sérios, alguns dos quais podem surgir somente após o tratamento de milhares de pacientes.
Esse é o caso de uma importante classe de antibióticos conhecidos como fluoroquinolonas. Os mais conhecidos são o Cipro (ciprofloxacina), indicado para infecções urinárias; o Levaquin (levofloxacina), para pneumonia; e o Avalox (moxifloxacina), usado no tratamento de pneumonia, de infecções abdominais, como a apendicite, diverticulite e colecistite. Em 2010, o Levaquin era o antibiótico mais vendido dos Estados Unidos. Ano passado, o medicamento também foi alvo de mais de 2 mil processos de pacientes que sofreram reações severas após se submeterem ao tratamento.
Parte do problema ocorre pelo fato de as fluoroquinolonas serem prescritas de forma inapropriada. Em vez de serem utilizadas apenas para combater infecções bacterianas sérias e que colocam a vida do paciente em risco, como uma pneumonia hospitalar, esses antibióticos são prescritos com frequência para combater sinusites, bronquites e outras doenças que poderiam sarar sozinhas, ou que poderiam ser tratadas com medicamentos menos potentes ou que são causadas por vírus, que não são suscetíveis aos antibióticos.
Em uma entrevista, o epidemiologista farmacológico da Universidade de Columbia Britânica, Mahyar Etminan, afirmou que os medicamentos eram utilizados em excesso "por médicos preguiçosos que querem matar moscas com submetralhadoras".
Etminan realizou um estudo, publicado em abril no periódico The Journal of the American Medical Association, mostrando que o risco de sofrer um descolamento de retina era cinco vezes maior entre usuários de fluoroquinolonas, comparando-se com o restante da população. Em outro estudo enviado para publicação, Etminan documentou um significativo aumento no risco de falência renal entre os usuários desse tipo de medicamento.
Uso inadequado rouba efeito do remédio
As fluoroquinolonas também são utilizadas no Brasil. A complicação está no fato de que, por serem muito eficientes, elas acabam sendo receitadas para problemas menores, como otites e sinusites. "O problema maior é que quanto mais se usa o antibiótico mais as bactérias o reconhecem e ficam mais resistentes a ele. A hora em que precisar realmente dessa arma potente ela não vai funcionar", explica o professor de Infectologia dos cursos de Medicina da Universidade Positivo e da PUCPR, Marcelo Ducroquet.
Nos Estados Unidos o aumento no uso desse tipo de medicamento já causou o aumento de duas infecções sérias e difíceis de tratar: cepas resistentes de Staphylococcus aureus e diarreias graves, causadas por Clostridium difficile.
Quando o médico prescreve um antibiótico, é importante perguntar que medicamento é necessário, quais são os principais efeitos adversos, se há alternativas e quando a doença estará curada.



