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Meio ambiente

Curitiba se prepara para ópera da biodiversidade

Está dada a largada. A partir desta semana, os paranaenses vão ter de se habituar a siglas feito COP 8 e MOP 3, já que ambas vão tomar conta, nos próximos dois meses, de noticiários, das placas das ruas e da vida do cidadão comum, direta ou indiretamente tocado por duas conferências internacionais de meio ambiente de primeira grandeza que acontecem na cidade de 13 a 31 de março. Ainda não se tem uma precisão do impacto que a 8.ª Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica – a COP 8 – e a 3.ª Reunião das Partes Signatárias do Protocolo de Cartagena – a MOP 3 – vão ter sobre Curitiba. Mas dá para presumir.

Em três semanas de atividades, as duas reuniões devem atrair cinco mil visitantes oriundos de cerca de 200 países, e, estima-se, cerca de oito mil participantes da sociedade civil. Serão chefes de estados, ministros do meio ambiente, representantes da ONU, lideranças indígenas, professores universitários e simpatizantes, para citar algumas tribos. Por mais europeizada que seja, a capital paranaense nunca viu tamanha Babel. Nenhum setor de serviços da cidade vai passar pelos eventos sem sofrer alterações – de motoristas de táxis a seguranças, de donos de hotéis a vendedores de pipoca.

Um bom exemplo disso se deu na manhã de ontem, quando o argelino Ahmed Djoghlaf, 52 anos, secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), organismo internacional ligado à ONU, criado na Conferência RIO 92 e o mais importante instrumento mundial no campo da biodiversidade, desembarcou em Curitiba para conhecer alguns dos principais espaços que serão utilizados pela COP 8 e pela MOP 3. A primeira parada foi no Parque Barigüi. O terno escuro do visitante e dos membros de sua comitiva – formada por representantes do Itamaraty, Ministério do Meio Ambiente e da prefeitura municipal de Curitiba – contrastava com a informalidade de "veranistas urbanos", em pleno cooper matinal.

Em vão, Ahmed tentou entender o que queria dizer "Barigüi", assim como, em outra parada, na Ópera de Arame (interditada para restauro para poder servir ao evento), "pinheiro-do-paraná". Por sorte, havia alguns para serem mostrados ao representante da CDB. A conversa com a reportagem da Gazeta do Povo se deu no Memorial de Curitiba, no Centro Histórico, onde o que mais chamou a atenção do ecologista não foi nenhuma bênção da natureza, como o Barigüi e o pinheiro, mas o gigantesco painel do artista plástico Sérgio Ferro. Mais difícil do que o tupi-guarani e a flora local, dessa vez, foi compreender o que era um "malandro", uma das figuras brasileiras em destaque na obra de Ferro.

Ahmed Djoghlaf esteve no Brasil pela primeira vez por ocasião da Rio 92 e vê um significado especial para a realização dos dois encontros no país, 14 anos depois. Afinal, foi na capital fluminense que nasceu a Convenção da Biodiversidade, assinada por 187 nações e uma espécie de fortaleza na defesa dos recursos genéticos. "A CDB nasceu no Rio, mas vai ficar adulta aqui em Curitiba", disse.

O termo implementação, aqui, não se trata de pura retórica. Uma das características de conferências como a COP e a MOP é a disposição pela prática, pelo convencimento e pela negociação sem trégua, desviando do discurso inflamado dos ecologistas de ocasião. A contar por isso, dá para prever que as discussões – nos dois casos, abrigadas na Expo-trade Center, em Pinhais – devem varar algumas noite em busca de consenso, fatalmente chamando atenção do mundo sobre o que está sendo discutido na cidade. Um aperitivo: a pauta da MOP 3 passa pela polêmica identificação – no rótulo – dos produtos transgênicos. A da COP 8 vai transitar, faltalmente, pelo desmatamento na Amazônia, divisão de benefícios genéticos e por um assunto que tende monopolizar a audiência: a proteção dos conhecimentos tradicionais adquiridos pelos povos indígenas, à mercê da biopirataria e da expropriação.

"É um dos assuntos. Não vai ser o centro do debate", afirma o representante da CDB, Ahmed Djoghlaf, mas sem disfarçar a admiração por esse tema explosivo, tamanho o número de perguntas que desperta. "Como vai ser a negociação com esses povos? Como pagar por esse tipo de informação? "Há um item da convenção que se ocupa dos 300 milhões de indígenas do planeta e da proteção do saber adquirido por eles. Estamos em busca de mecanismos para defender esse patrimônio", comenta, anunciando em seguida o repasse de US$ 1 milhão ao Ministério de Meio Ambiente, a ser aplicado no desenvolvimento de projetos com os povos da floresta. O debate já começou.

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