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Comportamento

“Curitibanos” por opção

Metade da população da capital não nasceu aqui, mas escolheu a cidade para morar. No Paraná, a situação é semelhante

Confira histórias de pessoas que vieram morar em Curitiba e se apaixonaram |
Confira histórias de pessoas que vieram morar em Curitiba e se apaixonaram (Foto: )
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Renato, Vilson, Fernanda e Priscila: trabalho foi determinante

Pouco mais da metade da população paranaense vive em uma cidade diferente daquela em que nasceu. A maior migração acontece dentro do próprio estado, onde 31% dos moradores mudaram de município. Há ainda 18% que vieram de outras regiões do Brasil – se declararam paulistas, catarinenses, gaúchos e mineiros aproximadamente 1,4 milhão de pessoas que vivem no Paraná. O levantamento foi feito no ano passado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada recentemente.

Em Curitiba, a situação é bastante semelhante: apenas 48% dos moradores nasceram aqui; 35% vieram do interior do estado e 17% de outras unidades da federação. Mas, afinal, quem são essas pessoas que escolheram a capital paranaense para morar? São exatamente aquelas que conseguiram uma boa oportunidade de emprego e viram em Curitiba uma chance de melhorar a qualidade de vida.

Esse quadro se reflete nas empresas e condomínios residenciais da cidade. Na central de serviços da Sadia, inaugurada em 2003 em Curitiba, há mais gente de fora do que curitibanos. A central tem cerca de mil empregados e 654 deles (65%) não nasceram na capital paranaense. Uma parte veio de São Paulo, outra do interior do estado e ainda há aqueles que trabalhavam na sede da Sadia de Concórdia (SC) e decidiram pedir transferência. "A visão que se tem de Curitiba é positiva. É de uma cidade moderna, onde a educação funciona. Ela é limpa, cheia de opções de lazer e áreas verdes", resume Renato Madalozzo, gerente-administrativo que largou Concórdia para viver aqui há três anos.

Da empresa para o condomínio, a realidade se repete. José Micchi é síndico de um edifício no bairro Bigorrilho, onde pelo menos 60% dos 26 apartamentos são habitados por pessoas de outros municípios. No prédio, é comum ser vizinho de porta de alguém de outro estado. A torcida pelos times de futebol fica animada: tem figueirenses (Santa Catarina), palmeirenses (São Paulo) e vascaínos (Rio de Janeiro). "No elevador, o assunto volta e meia acaba sendo futebol", conta Micchi.

Migração

A maior população que migra de outros estados para o Paraná é a de São Paulo e de Santa Catarina: no ano passado, entre os moradores do Paraná, declararam-se paulistas 604 mil pessoas e catarinenses 350 mil. Em seguida vem o Rio Grande do Sul (274 mil) e Minas Gerais (233 mil). Especialistas afirmam que a troca de população entre os estados acontece por causa da proximidade territorial e também pela identificação cultural e semelhanças climáticas: o que se resume também em busca de melhorias econômicas. "Interessante notar que os grupos que migram entre estados hoje deixam as gerações anteriores na cidade natal, até porque a distância é pequena para visitar parentes. Diferentemente de outros tempos, quando os nordestinos e toda a família deles vinham de longe para ficar em São Paulo, por exemplo, com o pouco que tinham", explica o professor de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Másimo Della Justina. Nos últimos 10 anos, o professor acredita que o Paraná, em especial Curitiba, tem atraído o migrante que pretende fazer curso universitário e depois se instalar na cidade, partindo para as profissões liberais, em especial Medicina e Advocacia. "Este grupo de pessoas encontra boas condições de vida na capital. Mas, hoje, é ilusão mudar para uma cidade maior sem um curso de qualificação. Isso não existe mais. Quem faz esta opção acaba não encontrando oportunidades nos grandes centros, pelo contrário, a qualidade de vida fica muito pior."

Foi o que aconteceu na década de 90 – quando o governo do Paraná começou a fazer propaganda de Curitiba como a cidade ecológica, boa para se viver. Falava-se que haveria emprego nas fábricas de automóveis que se instalavam na região, mas muitos que migraram em busca de trabalho – sem qualificação – ficaram desempregados. "Eles não conseguiram fixar residência em Curitiba, por causa do alto custo de vida, e foram para a região metropolitana. Isso se reflete até hoje: enquanto a capital do estado cresce 1,8%, os municípios vizinhos têm taxa de crescimento de 3% ao ano", afirma o chefe do IBGE no Paraná, Sinval Dias dos Santos.

Mudar de cidade sem trocar de estado tem sido a opção de grande parte da população. No ano passado, cerca de 3,2 milhões de pessoas se enquadraram neste perfil. Um tipo de migração sadia, segundo o professor Della Justina. "Os municípios do Paraná e o próprio estado, que gastaram antes em educação com esta população, agora absorvem profissionais qualificados no mercado de trabalho, tudo dentro do limite territorial. Os investimentos feitos ficam na região", diz Justina.

O chefe do IBGE lembra ainda que, a cada ano, as taxas de migração têm sido menores e constantes, até porque a população das cidades pequenas tem encontrado os subsídios necessários para uma vida melhor. "O grande fluxo migratório, que aconteceu na década de 70, quando a população rural veio para as cidades, não existe mais", comenta. A professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná, Gislene Santos, explica que atualmente o que mais acontece são as migrações internas e de curta distância, aquelas em que o morador dorme na cidade natal, mas viaja até a região mais industrializada para trabalhar.

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