Aficionado por desenhos animados desde criança, Marcelo Corrêa, 37 anos, viu na demissão em massa da multinacional que trabalhava há seis anos a oportunidade de correr atrás de um velho sonho. Ao saber da notícia, o administrador de empresas por formação resolveu não mais bater na porta de outras empresas para seguir na área de recursos humanos. Foi estudar teatro, mas com um objetivo além do de interpretrar nos palcos. Queria fazer aquilo que tinha como hobby desde pequeno: imitar e criar vozes. Ou seja, ser dublador a profissão exige registro de ator.
Morando no Rio de Janeiro há dois anos, Corrêa viu na Cidade Maravilhosa o sonho de ser a voz de personagens se afastar quando conferiu o preço dos cursos de dublagem algo completamente incompatível para quem tem batalhado por seu espaço nos palcos cariocas. Mas ao voltar a Curitiba para uma apresentação recente de seu grupo de teatro, Corrêa soube pela irmã que aqui havia sido criado um curso de dublagem. Foi atrás e descobriu que o preço era muito mais acessível do que no Rio ou em São Paulo, os dois pólos da área.
"Fiquei aqui para fazer o curso e quando voltar ao Rio vou bater na porta dos estúdios para realizar meu sonho de ser dublador", afirma o ex-administrador de empresas que tem extrema facilidade para imitar personagens infantis que vão de Bob Esponja a Scooby Doo, de Popeye a Pato Donald, passando pelo apresentador Silvio Santos geralmente a primeira pessoa que os dubladores começam a imitar.
Entretanto, conforme ressalta a professora do único curso de dublagem de Curitiba, do Instituto Brasileiro de Locução e Dublagem (IBLD), Regina Mattos, a intenção não é colocar esses novos profissionais para fazer vozes de personagens que já existem. O intuito é formar no Paraná vozes para novos personagens, principalmente para o mercado de desenhos animados, incluindo a publicidade. "Os grandes estúdios não vão abrir mão de seus profissionais, que já são vozes marcantes, para um novo talento. Mas a produção de desenhos animados está crescendo, inclusive no Paraná", avalia Regina.
Qualidades
Sobre as qualidades que um dublador deve ter, Regina afirma que há dois tipos de profissionais. O de voz marcante, que geralmente interpretra personagens de filmes, e aquele que tem uma variação de voz, podendo imitar vários personagens. "É importante também que a pessoa estude as técnicas para unir a voz à imagem. O tempo é muito importante, pois até o suspiro é fundamental na dublagem", ressalta.
Nesse campo, Regina afirma que as dublagens para desenhos animados permitem que o dublador exerça mais a criatividade. Enquanto que nos filmes a voz tem que obrigatoriamente se adequar ao ator que interpreta o personagem, chegando o mais próximo possível de seus trejeitos (tanto é que personagens interpretados por Sylvester Stallone, Bruce Willis, Eddy Murphy e Arnold Schwarzenegger, entre outros, dificilmente têm suas vozes trocadas nas dublagens), nos desenhos animados o dublador pode incrementar o personagem.
Um exemplo é a preguiça Sid, do filme A Era de Gelo. Na versão dublada, o ator Tadeu Mello incrementou um sotaque nordestino ao animal pré-histórico. "O desenho animado permite o dublador criar características que o personagem original não tem. Tanto que muitas vezes a versão dublada chega a ficar melhor do que a original", diz Regina.
Serviço: interessados no curso de dublagem podem ligar para o Instituto Brasileiro de Locução e Dublagem nos telefones (41) 3324-6914 e (41) 3233-5584.
