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Educação

Da saia plissada ao agasalho

Os uniformes de gala foram condenados ao sumiço. Ou quase. As fardas foram reinventadas e ganharam função bélica nas grandes cidades

Uniformes da Escola Municipal Kó Yamawaki, no Bairro Alto, camiseta vermelha e calça verde chamam atenção até de “motorista” de helicóptero | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Uniformes da Escola Municipal Kó Yamawaki, no Bairro Alto, camiseta vermelha e calça verde chamam atenção até de “motorista” de helicóptero (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Gravatinha e saia plissada. Meias três quartos brancas e calça de tergal vincada à perfeição. A simples menção aos uniformes escolares de antigamente tem o poder de fazer com que muita gente grande se transforme em piás e gurias prestes a correr no pátio atrás de uma "queimada". Só falta cantarem em coro "que saudades da professorinha". Nada mais natural: a roupa de ir para a aula foi, durante muito tempo, uma espécie de farda especial. Era um ritual. Mas ficou no passado. Ou quase.

Apenas uma ou outra escola de elite ainda hoje exige "uniforme de gala". A regra são os agasalhos e as camisetas com logomarca, adotados em nome do conforto, dos custos baixos, da praticidade. E de tudo o que combine com tênis, claro. No mais, mães que trabalham fora não podem arcar com a alvura de camisas brancas de punho e gola. Tampouco ficaria bem: duas Guerras Mundiais e umas tantas revoluções de costumes se encarregaram de por para correr todo e qualquer resquício de autoritarismo e de ingenuidade nas vestimentas. O uniforme de outrora tinha tanto um quanto outro. Por isso, foi condenado ao sumiço.

Mas algo se deu. Nem a pílula, nem a minissaia, nem o rock-and-roll foram revolucionários o bastante para acabar de vez com a "farda". Motivo: o uniforme virou um dispositivo de segurança em tempos de violência alarmante. Faça o teste – basta perguntar so­­bre a validade do uso de roupa normativa a professores de escolas públicas e particulares. Vai se ou­­vir: 1) peças iguais para todos os alu­­nos ajudam a formar a identidade escolar; 2) promovem a igualdade; 3) garantem que a criança e o adolescente sejam identificados com mais facilidade em caso de perigo.

Segurança

Em visita recente à redação da Gazeta do Povo, o secretário de Estado de Educação, Flávio Arns, afirmou, solene, os superpoderes dos uniformes escolares na garantia de direitos das crianças e adolescentes. O tenente-coronel da Polí­­cia Militar Douglas Dabul confirma. Criança uniformizada costuma ser identificada pela comunidade e acaba sendo mais protegida em situações de risco. "Os mais velhos, em especial, costumam ob­­­servar se tem aluno na rua no horário de aula ou se está sendo conduzido por alguém suspeito", explica o comandante da Patrulha Escolar.

Não há estatísticas. Mas também não há dúvidas, informa Dabul, sobre estudantes que podem perder a van, pular o muro ou gazetear no shopping. "Começa em casa. Os pais precisam insistir nas vantagens do uniforme."

Moda

Os uniformes têm origem militar, logo nasceram com tom disciplinador. Mas ganharam, com o tempo, algum encanto, até agonizarem nos anos hippies, quando baldes de alvejante desbotaram todas as roupas, incluindo as de ir para a aula. Tudo indica que seu retorno "à moda" – ainda que numa versão bem modesta – foi motivado pela insegurança das grandes cidades. Não à toa são em sua maioria cinzentos. A questão é bélica. Mas nada impede que também seja estética.

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