• Carregando...

São Paulo – Três anos e meio depois de confessar a morte de Marísia e Manfred Von Richthofen, num plano articulado juntamente com a filha do casal, sua namorada Suzane Von Richthofen, Daniel Cravinhos mudou ontem uma parte da versão sobre o crime. Ao mesmo tempo em que acusou por várias vezes Suzane de ser mentora do duplo assassinato, Daniel voltou atrás ao falar sobre a participação de seu irmão, Cristian, que mesmo depois de ter confessado o crime – inclusive em reconstituição policial – agora foi inocentado por Daniel, que afirmou que o irmão não deu golpes no casal.

Em depoimento de três horas, o ex-namorado de Suzane ainda deu detalhes dos dramas familiares que ela teria contado à época em que namoravam. Segundo ele, o pai da jovem tinha tentado estuprá-la quando ela era criança e costumava agredi-la depois das discussões. Manfred, segundo Daniel, bebia muito. Ele disse que várias vezes Suzane brigava com os pais porque, segundo contou ao juiz Alberto Anderson Filho, Marísia tinha caso extraconjungal com uma mulher e Manfred tinha amante.

Daniel foi ontem o primeiro a falar ao juiz e aos jurados, em depoimento marcado principalmente pela forma fria como contou tudo o que aconteceu na mansão dos Richthofen na noite de 31 de outubro de 2002.

"Ela entrou primeiro (na casa), depois abriu a garagem para nós. Fomos até as escadas e esperamos ela acender a luz do hall. Nós subimos então para fazer o que ela mais queria. Só que o meu irmão passou mal e fui sozinho para cima do casal. Ele (Cristian) ficou parado perto da janela", disse Daniel, garantindo que o irmão não atacou nenhum dos dois.

Daniel contou com detalhes o que fez dentro do quarto. "Primeiro fui para cima do Manfred e dei as pauladas. A Marísia não acordou, só se mexeu. Então fui para o outro lado da cama e bati nela até matar. Eu não sabia o que estava acontecendo, fui fazendo sem noção de nada. Depois, ajoelhei no quarto e comecei a chorar e a rezar. Eu não acreditava no que tinha acabado de fazer", contou Daniel.

Daniel disse ainda que a idéia de usar luvas cirúrgicas e meia calça para não deixar vestígios partiu de Suzane, que, disse ele, queria "matar os pais de qualquer jeito". "Ela sempre planejou a morte dos pais, dizia isso para todos os amigos. Mas qualquer adolescente fala esse tipo de coisa, eu só não achava que ela seria capaz de levar o plano adiante", afirmou. "Ela queria matá-los porque eles brigavam muito com ela. Ela me disse que o pai dela tinha tentado estuprá-la quando ela era pequena, passava as mãos nas partes íntimas. E como o Andreas sabia disso tudo, muitas vezes ela ia dormir no quarto dele para fugir do pai", contou Daniel, para quem Suzane tinha uma idéia fixa na cabeça: "Ela vivia falando que o plano tinha que ser perfeito."

Sobre a participação de Cristian, Daniel contou que seu irmão apenas ficou sabendo do plano dos dois no fim da tarde do mesmo dia das mortes. "Eu pedi pelo amor de Deus para ele me ajudar. Eu disse para ele que mesmo se ele não me ajudasse não tinha mais como deixar de fazer o que ela queria, que era matar os pais", contou o rapaz, hoje com 25 anos.

Ainda no depoimento, Daniel procurou desfazer a imagem "pura" e "virgem" de Suzane que os advogados dela tentam passar à opinião pública. "Ela perdeu a virgindade com 14 anos, com outro namorado (...)". Sobre o uso de drogas, Daniel disse que Suzane tinha como hábito fumar maconha "quase todos os dias", sempre depois que deixava o prédio da PUC, faculdade onde cursava Direito.

Cristian, que falou em seguida, contou que decidiu assumir a culpa pela morte de Marísia para livrar o irmão Daniel da acusação de duplo homicídio. Ele contou que na hora de matar Manfred e Marísia ficou paralisado. De acordo com os promotores, Cristian perderá o benefício da redução da pena porque mentiu durante a investigação.

Segundo ele, o irmão não deu chance a ele de conversar. "Eu queria conversar e eles afirmaram que iam fazer aquilo. Suzane escutava Bob Marley e fumava um cigarro de cravo como se fosse para o Hopi-Hari. Ela afirmava que ia matar os pais", disse.

O depoimento de Suzane começou por volta de 20h20 e não havia terminado até o fechamento desta edição.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]