Com o Dia da Criança, é normal os pais se preocuparem com o presente que darão aos filhos hoje. Brinquedo é o mais comum. Mas, afinal, o que faz uma criança feliz? De acordo com especialistas, valores e dedicação é o que de melhor elas podem receber. "Mais do que o brinquedo, o importante é o tempo dos pais dedicado para brincar com as crianças", opina a psicóloga infantil Vera Fontoura.
"O papel dos pais é passar valores. É um presente que as crianças levam como experiência de vida", acrescenta a professora de Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Míriam Pam. "Muito mais do que os instrumentos, o importante é o próprio ambiente. Não precisa de brinquedos sofisticados, mas de um ambiente acolhedor", ensina a professora doutora da área de Educação, especialista em Psicopedagogia, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Evelise Portilho.
Adepta a essas concepções, a dona de casa Karen Kalinska Graf Ribas, 32 anos, é contra presentear as filhas Luísa, 7 anos, e Laura, 10 anos, com brinquedos caros e sofisticados. "Brinquedos caros, elas só dão bola na hora, quando abrem. Prefiro inventar moda: cortar papel, fazer máscaras...", conta.
Os irmãos Júlia Laurentino Silveira, 10 anos, e Tiago Laurentino Silveira, 11 anos, não têm dúvidas. Entre ganhar brinquedos ou ficar com a família, são unânimes: "prefiro ficar com a família", dizem. Não é que eles não gostem de videogame, bicicleta, mas é que o valor da família fala mais alto. "Eu não ficaria triste se não ganhasse brinquedo no Dia da Criança", afirma Júlia. A programação da família para hoje? Ficar em casa reunida jogando War.
Programa em família
Os irmãos Bruna, 7 anos, e Pedro Henrique Nyczkoeski, 9 anos, aguardam ansiosamente que o pai, o administrador de empresas, Élcio Nyczkoeski, chegue de viagem hoje para um programa que reúna a família. Eles combinaram um passeio para o Dia da Criança: ir ao jogo do Coritiba juntos. "Eu não gosto de ir ao estádio, mas vou para fazer uma atividade em família", afirma a mãe, a pedagoga Patrícia Nyczkoeski.
Contudo, mesmo felizes com o programa em família, Bruna e Pedro dizem que não dispensam um brinquedo no Dia da Criança. "A Bruna não é muito exigente, ao contrário de Pedro, que não se satisfaz facilmente", conta Patrícia. Segundo ela, o filho não sabia o que queria ganhar, mas, quando os pais falaram na possibilidade de presenteá-lo com uma bola, foram surpreendidos com a resposta do garoto: "Mas só uma bola?"
"A felicidade está passando para o 'ter': uma ilusão da sociedade contemporânea", analisa Míriam. "Não podemos fazer com que a criança aprenda que somente será aceita socialmente se tiver o que os outros têm. Ter não pode se tornar mais importante do que ser", ensina a pedagoga e diretora do Colégio Martinus Portão, Débora Loepper Borges.
Segundo Débora, dar aos filhos tudo o que eles desejam pode ser perigoso. "As crianças não sentirão vontade de compartilhar e de contribuir para a sociedade, pois não aprenderam a pensar nos outros e a valorizar a amizade, o companheirismo, o respeito e a solidariedade", diz.
O importante, segundo Míriam, é que os pais não caiam em uma eventual chantagem emocional das crianças. "A criança é influenciada pela mídia e pelos adultos. Cabe aos pais terem habilidade para lidar com isso", diz.



