Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Independência

Defesa do bem público é exemplo de civismo

Pesquisa mostra que o principal ato cívico para a população é exercer a cidadania pelo voto nas eleições

Otimismo |
Otimismo (Foto: )

O sonho de ver o Brasil alcançar um status de grande potência mundial está mais vivo do que nunca na cabeça dos curitibanos. É o que indica uma pesquisa en­­comendada pela Gazeta do Povo ao Instituto Paraná Pesquisas para avaliar o sentimento cívico da população. Na quarta e na quinta-feira da semana passada, foram entrevistados 484 moradores da capital maiores de 16 anos. Para 81% deles, o Brasil ainda é "o país do futuro".

Esse otimismo não significa que o curitibano confunda pa­­triotismo com ufanismo. Pelo contrário, 59% dos entrevistados definem civismo como "defender o interesse público e o bem-estar coletivo", diferentemente de apenas 20%, que responderam que civismo é "venerar os símbolos nacionais como a Ban­­deira e o Hino". Esse conceito se reflete na hora de manifestar seus sentimentos cívicos: 77% de­­clararam demonstrar seu civismo principalmente exercendo a cidadania pelo voto, sendo solidários, cumprindo com seus de­­veres e fazendo valer seus direitos. Apenas 11% escolheram co­­mo maior manifestação cívica a torcida por atletas brasileiros em competições internacionais.

O sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), compartilha dessa visão cidadã do civismo. "No Brasil, durante muito tempo o patriotismo foi identificado com o Estado, até com questões militares", lembra. "O sentimento cívico e patriótico é mais do que isso, ele envolve a própria noção de cidadania e democracia." Segundo Oliveira, isso inclui a defesa dos valores éticos, da língua e da cultura nacionais.

Para o sociólogo, as conquistas sociais e econômicas do país nos últimos anos estão resgatando a autoestima do povo brasileiro – daí o otimismo registrado pela pesquisa. "O Brasil alcançou um novo patamar", afirma. "Os governos militares tinham aquele discurso do Brasil potência. Agora o país está se transformando numa potência com cidadania, com distribuição de renda, justiça social, conquistando o respeito internacional e assumindo uma liderança regional."

Contribui para isso o tamanho do país, que permaneceu unido após a Independência, ao contrário da América espanhola, que se fragmentou em dezenas de repúblicas. Na pesquisa, a unidade nacional foi destacada por 60% dos entrevistados, que discordam da proposição de que o Brasil seria um país muito diferente de norte a sul e que por isso não poderia ser chamado de nação.

Oliveira ressalta ainda que o Brasil pela primeira vez ingressa num clube de gigantes, o Bric, que integra os quatro principais países emergentes do mundo (Brasil, Rússia, Índia e China). "Temos um papel protagonista no século 21", afirma. "Dife­ren­temente de um Uruguai ou Ar­­gentina, falamos de igual para igual com os Estados Unidos."

Essa liderança, conforme lembra o sociólogo, foi construída dentro da nossa vocação pacifista, por isso é voltada ao respeito e à cooperação internacional. Isso se encaixa no conceito de patriotismo defendido por Oliveira, o de "nacionalismo sem xenofobia", em oposição ao autoritarismo e o caudilhismo que imperavam na América Latina. "Acumu­lamos ao longo dos séculos uma das maiores experiências nacionais do mundo", afirma. "É um nacionalismo de inclusão, como em Curitiba, onde imigrantes de diferentes origens convivem em harmonia. Não há disputas étnicas, de língua ou de religião. So­­mos todos brasileiros."

Para o presidente da União Pa­­ranaense dos Estudantes (UPE), Paulo Moreira da Rosa Júnior, o povo brasileiro está voltando a ter orgulho do país. "Tivemos al­­gumas vitórias, como a redução das desigualdades, e fomos um dos últimos países a entrar na crise e um dos últimos a sair", lembra. "Na última década tivemos ainda o renascimento do cinema brasileiro, com filmes de qualidade que caíram no gosto do público."

Orgulho e vergonha

Apesar de todos esses avanços do país, a "natureza exuberante" ainda é o maior motivo de orgulho patriótico para 50% dos curitibanos. Também foram citados os "pontos turísticos, como o Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu" (24%), e as medalhas conquistadas por nossos atletas (12%). O levantamento mostra ainda que 74% dos entrevistados nunca sentiram vergonha de ser brasileiro. Entre os que já sentiram alguma vez, porém, 16% indicaram como motivo a classe política, a corrupção e os escândalos. Os políticos brasileiros foram ainda apontados como "vergonhosos" por 95%. Para 71% dos entrevistados, o povo brasileiro não convive bem com a acentuada desigualdade social.

"Sem patriotismo não há valores nem referências", diz Oli­veira. "O ladrãozinho de rua ou o do Senado não têm visão ética e coletiva." Paulo Rosa concorda. "Muitos dos descasos na política são falta de zelo com o patrimônio público", afirma.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.