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Virginia e Janice estão envolvidas na campanha de combate ao mosquito Aedes aegypti no bairro onde moram | Antonio More/Gazeta do Povo
Virginia e Janice estão envolvidas na campanha de combate ao mosquito Aedes aegypti no bairro onde moram| Foto: Antonio More/Gazeta do Povo

Governo faz operação para barrar tipo 4

Da Redação

Depois do registro de quatro casos suspeitos de dengue tipo 4 em Boa Vista, capital de Roraima, o Ministério da Saúde e autoridades locais tentam agora isolar o vírus no estado para impedir que ele chegue a outras partes do país. Ontem, agentes comunitários iniciaram visitas às casas de moradores dos bairros onde foram identificados os casos suspeitos, para mapear se há novos casos. O trabalho, chamado de busca ativa, deve ser feito até o final da próxima semana, de acordo com o ministério. As informações são da Agên­cia Brasil.

Outra medida adotada é a aplicação de inseticida em locais propícios para os criadouros do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. O ministério emitiu um alerta nacional sobre a possível entrada do vírus tipo 4 no país. O sorotipo viral 4 da dengue está fora do Brasil há 28 anos. Por não circular no país durante esse período, a maior parte dos brasileiros não tem imunidade contra esse tipo da doença, situação favorável ao surgimento de uma epidemia, segundo o infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edmilson Migowiski.

Agravante

Há outro agravante se a pessoa tiver contraído a dengue tipo 1, 2 ou 3 e depois for infectada pelo vírus tipo 4. Isso aumenta a chance de desenvolver a forma mais grave da dengue. "É uma situação extremamente preocupante. Você tem uma população que já teve dengue antes e está vulnerável a um novo vírus. O índice de letalidade pode ser muito maior", alerta o especialista.

O coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho, que está em Boa Vista, reconhece o risco de transmissão acelerada da dengue caso ocorra a dispersão do vírus. "A possibilidade de transmissão de dengue é muito grande se esse sorotipo circular nos centros urbanos", afirmou, em entrevista na capital de Roraima.

Quase um ano após a explosão de casos da gripe H1N1, que matou 287 pessoas no Paraná em 2009, a nova "doença do ano" no estado será a dengue. De acordo com especialistas, o surto, que este ano concentra casos do tipo 2, ocorre três anos após a última explosão, do tipo 3. Este ano, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) já notificou 56.700 casos doença, com 20.659 confirmados e oito óbitos. Em Curitiba, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, foram feitas 254 notificações, com 62 confirmações.O ciclo da dengue no Paraná apresentou um surto do tipo 1 no ano 2000, seguido do tipo 2 em 2003, do tipo 3 em 2007 e terá novamente o tipo 2 neste ano. A previsão é que o próximo surto, que deve ocorrer em 2013, será do tipo 4, que não aparecia no Brasil desde 1982, e que no momento está restrito ao estado de Roraima.

Para o superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, José Lúcio dos Santos, o ressurgimento da dengue se explica pela dinâmica própria do vírus. Como não é possível pegar o mesmo subtipo mais de uma vez, já que o corpo cria memória imunológica contra aquele tipo específico, a tendência é que aquele subtipo permaneça ativo por cerca de três anos até perder intensidade para outro tipo, para o qual a população ainda não criou anticorpos.

"Imagine que no primeiro ano, se 60 das 100 pessoas expostas ao vírus contraíram a doença, no segundo ano serão menos casos, até que no terceiro ano não há mais nenhum Assim, abre-se espaço para outro vírus, que estava ausente, e que vai atacar quem ainda não pegou aquele tipo e as crianças que nasceram após aquele surto."

As condições climáticas também influenciam, de acordo com Santos. "Da primeira quinzena até março deste ano choveu muito e fez um calor atípico. Isso favorece a proliferação do mosquito". O descuido da população, porém, também é outro empecilho no combate à doença. Com o temor causado pela gripe suína, muitos se esqueceram de que a dengue também deve ser alvo de prevenção.

"Quando tem uma epidemia, as pessoas ficam mais alertas. Como a dengue não foi notícia nos últimos tempos, houve um relaxamento que contribuiu para aumentar a população do mosquito no verão. É uma questão cultural, e as pessoas precisam colaborar, pois só as autoridades sanitárias sozinhas não dão conta", afirma a epidemiologista do Hospital de Clínicas da Universidade Fede­ral do Paraná, Suzana Dalri Moreira.

Com o intuito de contribuir para diminuir os casos, as amigas Virginia Larguna, de 69 anos, e Janice Chiarello, de 72, partiram para a ação. Virginia passou por dois meses de capacitação na prefeitura e formou-se agente master, nome dado aos idosos que visitam domicílios próximos às suas casas em busca de focos de infestação e dando orientações aos vizinhos sobre como se prevenir da doença.

"Cheguei até a me vestir de mosquito. A fantasia ajuda a esclarecer e também diverte. E as pessoas são muito receptivas". Janice, que mora em apartamento, conta que checa todo dia se há água nos vasos de flores e cobra da família e conhecidos o mesmo cuidado. "Por morar em prédio, não há tanta preocupação, mas ela existe". Virginia acrescenta: "É possível ter foco até dentro da geladeira. Bastou deixar água parada que o bicho se aproveita..."

Em Curitiba, os casos vêm de fora

Pelos dados da Secretaria Municipal da Saúde, todas as 62 pessoas infectadas com o vírus da dengue adquiriram a doença fora da cidade, a maioria em estados que fazem divisa com o Paraná, como São Paulo (16 casos) e Mato Grosso do Sul (5) ou em outros municípios paranaenses (18). "Aqui, menos de 1% das casas possui focos de infestação. Já no estado, há cidades com 18% das casas infestadas. Muitas pessoas também viajam para São Paulo e Rio de Janeiro, locais com grande número de casos", explica a diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde, Karin Luhm.

No Paraná ocorre o contrário: mais de 96% dos casos foram autóctones, quando o paciente é contaminado na sua própria localidade. De acordo com o superintendente José Lúcio dos Santos, mais de 200 municípios paranaenses são considerados infestados, com incidência de 300 casos para cada 100 mil habitantes. "Faz muito calor e chove mais nessa região, o que é muito favorável ao mosquito. Se aqui, com esse frio, aparecem casos, imagine em cidades como Maringá e Londrina, onde faz calor praticamente o ano inteiro."

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