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Saúde

Desequilíbrio que tira os pés do chão

Sintoma presente na rotina de grande parte dos idosos, a tontura divide especialistas quanto à origem e ao diagnóstico

 | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
(Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)

A sensação de desequilíbrio é extremamente limitante: o indivíduo sente o ambiente girar, ou é ele que gira enquanto tudo está no lugar. Esse descompasso de movimento é característico da tontura, um dos sintomas mais comuns na rotina de adultos – 40% já relataram a ocorrência em algum momento de suas vidas –, e muito presente no dia a dia dos idosos. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO), coordenada pelos médicos Fernando Ganança, Raquel Mezzarila e Oswaldo Laércio Cruz, demonstra que 70% dos idosos sentem tontura rotatória, a vertigem. Além de comprometer a atividade diária e a autonomia, o sintoma pode provocar complicações de saúde ainda mais graves, como quedas e suas consequentes fraturas, a principal causa de morte acidental de pessoas com mais de 65 anos. O risco é real: no mesmo estudo da SBO, metade dos entrevistados relata episódios de queda após perder o equilíbrio.

Por causa disso, o sintoma exige uma avaliação criteriosa do médico que recebe um idoso com essa queixa em seu consultório. O diagnóstico correto vai ajudar em duas pontas: tratar a doença que altera o equilíbrio e prevenir sequelas dolorosas que podem ocorrer em caso de queda e fraturas.

No Brasil, as causas de tontura, em geral, estão relacionadas a problemas no labirinto, estrutura interna do ouvido, uma das responsáveis pelo equilíbrio postural. É comum o paciente sair da consulta com um diagnóstico de labirintite, uma inflamação rara na estrutura, usada erroneamente para designar qualquer alteração de desorientação espacial. "O aumento da pressão dos líquidos do labirinto (doença de Menière) pode provocar tonturas. Mas o ouvido também pode ser afetado por doenças vasculares, como a hipertensão arterial; metabólicas, como diabete, hipo e hipertireoidismo e dislipidemias; e intoxicações por alguns antibióticos, anti-inflamatórios e inseticidas", informa a médica Raquel Mez­zarila. Doenças na coluna cervical também podem causar tontura assim como algumas infecções, como no caso da sífilis e da herpes.

Sem consenso

O diagnóstico de problemas no labirinto, porém, não é consenso. "O termo labirintite não existe. Virou argumento mercadológico para venda de medicamentos", observa o neurologista Paulo Rogério Bittencourtt, de Curitiba. O médico explica que a maior parte dos distúrbios de equilíbrio tem duas causas principais: vascular e neurológica. Em muitos idosos, o uso de medicamentos para doenças crônicas provoca um efeito colateral de desequilíbrio. Antidepressivos e protetores estomacais têm uma reação anticolinérgica, que pode causar tonturas. O sintoma pode ser controlado com a readequação da medicação.

A hipotensão arterial também provoca a vertigem. O paciente tem uma queda de pressão transitória e repentina, geralmente depois de um repouso prolongado, e chega a ter um pequeno desmaio, que pode acabar em queda. "Essa situação é a principal causa de fratura de fêmur em idosos", aponta. A indicação, neste caso, é sempre levantar-se devagar, para que a irrigação cerebral seja eficiente e não provoque tonturas.

O envelhecimento está relacionado aos fatores neurológicos que provocam a tontura. A idade altera a capacidade de equilíbrio da pessoa, porque reduz a velocidade das transmissões neurológicas dos sensores de posição, responsáveis pelas reações músculoesqueléticas dos movimentos. "Diabete, hérnias de disco e outras doenças degenerativas afetam essas transmissões neurológicas. A informação de um movimento, como dar um passo ou levantar-se, demora mais para chegar ao cérebro. A reação também fica mais lenta e o resultado é o desequilíbrio e o risco de queda", explica. Além de usar uma bengala, para auxiliar na caminhada, eliminar obstáculos em casa também ajuda a reduzir danos.

Quadros de ansiedade, de­­pressão e estresse também podem ter a tontura como sintoma. E é por isso que a consulta médica é tão importante para a avaliação da queixa do paciente. "O idoso tem uma série de problemas de saúde relacionados. Os relatos de tontura e desequilíbrio precisam ser avaliados no quadro de saúde geral e a medicação, ponderada", observa Bittencourtt.

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