
As descargas atmosféricas que incidem no Paraná representam 12% dos casos do país. Dos cerca de 4 milhões de raios que atingiram nestes últimos dez meses, 465.647 foram no estado. Neste ano, desde janeiro, já foram registradas 62 mortes no país. O estado que lidera o ranking é São Paulo, com 18 mortes. Entre os fatores que predispõem às ocorrências, estão a falta de informação sobre como se prevenir e as instalações mal-feitas de pára-raios, segundo o engenheiro da Comissão de Segurança em Edificações e Imóveis (Cosedi) Jorge Castro. Somente em 2008, foram 250 prédios notificados, 30 deles por denúncia. As adequações do equipamento de segurança às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) deverão ser feitas até agosto de 2009.
Para ele, o desconhecimento da população da obrigatoriedade do uso do equipamento é preponderante para evitar possíveis acidentes. "É uma área da segurança que ninguém fiscaliza e as pessoas fazem o que bem entendem", lamenta. Para resolver esse problema, desde 1998, a Cosedi é o responsável pela fiscalização do sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) ou pára-raios, entre outras funções. Para Castro, o sistema é complexo: exige não só a instalação da haste, como de captores de cabos que descem pela edificação e de aterramentos, a fim de protegê-la. Em reuniões realizadas em todo o estado, há muita resistência. As pessoas não acreditam que um raio vá cair sob sua casa e queimar tudo, por exemplo. Segundo o engenheiro, a consciência só começa a existir depois do sinistro.
Diariamente, o dono de uma loja que vende o pára-raios, Romualdo Padilha, chega a elaborar de quatro a cinco orçamentos. Soldado reformado do Corpo de Bombeiros, Padilha alerta sobre a importância de um projeto e instalação adequados. O valor depende do número de andares. Um prédio de 25 andares, por exemplo, chega a pagar R$ 30 mil. Conforme o comerciante esclarece, não adianta instalar só o pára-raios: equipamentos de baixa tensão como disjuntores (com um custo de R$ 700 a R$ 800 para uma residência de 200 m2) também precisam fazer parte do sistema para que não haja a queima de sistemas elétricos e eletrônicos, como centrais telefônicas, portões automáticos e elevadores. Com a instalação no relógio de luz, o raio vai em direção ao aterramento. Se for muito forte, o disjuntor queima, mas não afeta as instalações do prédio.
Esclarecimento
O engenheiro do Cosedi ressalta ainda que não adianta ter um ferro em cima da caixa d'água de um prédio, por exemplo, com apenas dois cabos descendo, modelo esse muito encontrado nas fiscalizações, comenta o engenheiro. Nem sempre o raio cai, necessariamente, na ponta, por isso a necessidade de cabeamento próprio. Se o equipamento estiver mal dimensionado, na incidência do raio uma pessoa pode ser atingida. "A descarga é tão violenta que o raio se desloca, perde a direção por causa da resistência do ar, e atinge outra coisa", avisa. Segundo ele, quanto mais alto o prédio, menor a proteção da ponta (onde está instalado o pára-raios).
O coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Osmar Pinto Júnior, lembra que o pára-raios não é instalado para a proteção humana e, sim para a estrutura sobre a qual está disposto. Esse tipo de consciência e os cuidados pessoais que devem vir dela são fundamentais para a diminuição de acidentes. Por exemplo, em uma rua de Curitiba com muitos prédios altos a chance de que um raio caía é mínima, lembra. Se o equipamento estiver instalado a 20 metros do chão, ele poderá proteger até 20 metros de distância, ilustra Júnior.



