
A carência de heróis fez com que a América Latina elegesse personalidades erradas como grandes ícones das nações. A partir desse ponto de vista, o novo livro de Leandro Narloch desta vez escrito em parceria com o jornalista Duda Teixeira traz um compilado de informações negativas a respeito de 11 personalidades. O Guia Politicamente Incorreto da América Latina, recém-lançado, acaba com qualquer chance de vangloriar Che Guevara, Pancho Villa, os peronistas, os bolivarianos, Allende e até os índios incas e astecas. "O maior problema é que a América Latina costuma admirar psicopatas, pessoas que fizeram mal aos países, que perseguiram pessoas", afirma Narloch. Para ele, muitos viraram heróis só porque, na época, fizeram oposição aos Estados Unidos. "Seria interessante se conseguíssemos nomear também aqueles heróis que não se voltaram contra o sistema, mas o tornaram melhor", sugere. Detalhes da vida particular e da personalidade de cada um dos heróis enriquecem o livro, que faz rápidas pinceladas sobre os grandes feitos, mais para ajudar o leitor a entender o período do que para prestigiar os seus objetos de análise. A intenção do livro não deixa de ser atacar justamente os heróis enaltecidos pelas atuais gerações que ignoram ou desconhecem a "verdadeira" história. "Neste mês, em uma revista de circulação nacional, o deputado Jean Wyllys, um dos maiores defensores da causa gay, posa em uma foto vestido de Che. Acho que ele não sabe que Che foi um dos líderes mais homofóbicos do período. Até os gays favoráveis ao regime se deram mal", afirma Narloch.
Em comum, as 11 figuras parecem ter problemas com a economia. Isso porque todos, quando no poder ou ao influenciar a política de seus países, acabaram levando-os à ruína. Alguns deles optaram pelas três atitudes infalíveis: nacionalização, maior impressão de dinheiro e inflação.
Che, por exemplo, instituiu o carnê de racionamento para combater a escassez de alimentos e, em menos de dois anos, já faltavam na ilha arroz, feijão, leite. Como ministro da Indústria conseguiu arruinar Cuba porque previu a autossuficiência do país em alimentos, mas com menos dólares oriundos da exportação de açúcar (depois de reduzir a área cultivada), não tinha dinheiro para investir. Aumentaram as estatizações e Che se deparou com outro problema: ao estatizar a Coca-Cola, porque antes chamava o líquido de água negra do imperalismo, os chefes da indústria foram embora e levaram a fórmula. Não deu outra: o sabor da Coca-Cola socialista estava longe do original.
Argentina
Juan Domingo Perón presenteou os trabalhadores com vários direitos, incorporou o 13.º salário e estabeleceu folgas semanais, mas deixou os empresários sem saída. O salário mínimo subiu 33% e, somado a outros benefícios, o aumento real foi de 70%. Não deu outra. Os trabalhadores passaram a ser vistos como problema, o desemprego aumentou e muitas fábricas fecharam. O resultado foi a falta de produtos no mercado e o aumento da inflação.
Salvador Allende, no Chile, conseguiu destruir a democracia. Nacionalizou fazendas e pelo menos 90 indústrias, promovendo o desabastecimento e a inflação. Até as padarias pararam de funcionar e as terras com mais de 80 hectares foram expropriadas.
Rebeldes
Por trás de uma grande revolução, há também líderes sanguinários e muitas mortes. "Concordo que não existe revolução sem mortes, o problema é que muitos se orgulhavam do que cometiam", explica Narloch, que tem em mente escrever outo guia, agora sobre o mundo ou sobre economia.
Che Guevara
Com um fascínio tão grande pela revolta, calcula-se que ele matou pelo menos 114 pessoas entre 1957 e 1959. Entre as vítimas há colegas do grupo de guerrilha, policiais mortos na frente dos filhos, menores de idade e opositores políticos. Rigor era a palavra de ordem e qualquer suspeito, mesmo que estivesse do seu lado, era eliminado. Perseguiu gays. Algumas vítimas foram mortas por razões desconhecidas até hoje. Em seu diário, escreveu que dava detalhes em público sobre as execuções sem o menor pudor. Afirmou: "fuzilamos e seguiremos fazendo isso enquanto necessário."
Atahualpa e Montezuma
Mais recentemente, livros de História têm enfatizado que a conquista dos espanhóis não foi vista como algo tão ruim assim por algumas tribos do atual Peru e México. Isso porque já havia rivalidade e exploração entre os índios e alguns deles estavam tão descontentes que viram nos conquistadores espanhóis uma alternativa para se libertar. Atahualpa era o líder dos incas e senhor de milhões de índios. Quando foi preso pelos espanhóis, mandou matar o irmão dele, Huáscar, porque temia que o irmão se aliasse aos espanhóis e entregasse mais ouro para matá-lo (o próprio Atahualpa entregou 6 mil quilos de ouro, mas acabou estrangulado). O livro compara os incas a verdadeiros comunistas, pela opressão promovida. No México, Montezuma fazia as cidades derrotadas pagarem impostos e ainda havia os rituais de sacrifício humano para as divindades. Até crianças foram alvo da crueldade, porque eram mortas para saciar a fúria dos deuses.
Pancho Villa
Segundo o livro, tinha um exército formado por soldados viciados em maconha . Poderia ter feito a reforma agrária, mas, em grande parte, as terras que conquistou ficaram para os integrantes do grupo. Era rigoroso: vacilou, tomou bala. Dizia que era o jeito de controlar o "exército" bandoleiro. Ele adorava os Estados Unidos e foi adorado pelo norte-americanos, principalmente em 1914, quando virou estrela de Hollywood. Fez uso da violência e de sequestros para financiar suas atividades. Teve afinidade com criminosos que atuavam na fronteira com os EUA.
Salvador Allende
Acredita-se que foi um herói porque perto de seu sucessor, o ditador Augusto Pinochet, de fato era um bom homem. Mas ele reprimiu a imprensa e apoiou grupos paramilitares que recebiam apoio de Cuba. Seus seguidores, armados, começaram a fazer uma série de apropriações de fazendas. Ele tentou controlar o ensino nas escolas (criar homem livre em uma sociedade não capitalista). Atingiu os mais pobres quando houve escassez de alimentos no país. Propôs a esterilização de doentes mentais e alcoólatras.
Evita
A mulher de Perón ficou popular com seus discursos simplistas. Ela criou uma fundação com seu nome que ajudava hospitais, escolas e orfanatos. Mas o dinheiro vinha do próprio governo e de companhias que teriam sido extorquidas. Empresários que não quisessem ajudar, corriam o risco de ver a empresa estatizada. Quando morreu, Evita deixou bens que contavam 756 objetos de prataria, diamantes e pedras preciosas contabilizadas em 19 milhões de pesos. Suspeita-se que ela tinha peças de ouro nazistas, oriundas de judeus mortos em campos de concentração.
Simón Bolivar
É chamado no livro de "conquistador covarde". A ideia dele era criar uma grande república com a independência de várias colônias e suas intenções resultaram em 30% de mortes na Venezuela. Ele tinha medo das classes que estavam abaixo da dele (da elite branca) e levantou uma luta contra índios e negros. Bolívar era de direita, mas depois de morrer passou a ser considerado esquerdista, principalmente sob a visão do presidente Hugo Chávez. O próprio Karl Marx, na época, o chamou de inútil e narcisista.
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