
Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas, na manhã de ontem, durante a desocupação de um prédio desativado da empresa de telefonia Oi, na zona norte do Rio, que havia sido invadido há quase duas semanas. Entre os feridos, há oito moradores (cinco adultos e três crianças) e nove policiais militares. Revoltados, os desabrigados atearam fogo no edifício desocupado, numa viatura da PM e em seis ônibus, sendo cinco de passageiros e um da Companhia Municipal de Limpeza Urbana. Outros 11 ônibus foram apedrejados.
Veículos de reportagem e quatro agências bancárias foram depredados. Um supermercado foi invadido e saqueado. Em meio à confusão, traficantes da Favela do Rato Molhado, próxima ao edifício invadido, atiraram contra a polícia. A comunidade foi ocupada provisoriamente pelos PMs. Ao menos 27 pessoas foram detidas, entre elas o repórter Bruno Amorim, do jornal O Globo, que cobria a reintegração de posse.
"Era cerca de 8h30 e eu estava no meio da confusão quando vi um policial e um manifestante de camisa vermelha trocando socos. Puxei o celular da empresa para tirar fotos. Foi quando um outro policial me deteve, alegando que eu estava tacando pedras. Me deu uma chave de braço e me machucou. Jogou meu celular no chão. Como eu poderia arremessar pedra se numa mão eu segurava o celular e na outra o bloco de anotações?", disse o jornalista.
Um dos feridos foi o entregador de pizza Maycon Gonçalves Melo, de 25 anos, que ficou cego de um olho ao ser atingido supostamente por uma bala de borracha. A mãe dele, Maria da Conceição Gonçalves, de 42 anos, acusa PMs do Batalhão de Choque de terem atirado no filho durante a desocupação. Atingido por uma pedrada no rosto, um PM permanece hospitalizado. As duas crianças (de 13 e 9 anos) e o bebê de 6 meses que foram socorridos pelos bombeiros tiveram intoxicação por inalação de fumaça.
Dentro do planejado
Após a desocupação, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) disse que "foi feito o que tinha que ser feito". "Quem precisa de abrigo está sendo levado para abrigo. As famílias realmente necessitadas de casa estamos levando para três lugares para que seja feito cadastro. Agora, o aproveitador, aquele que está depredando carro de polícia e queimando ônibus, não precisa de moradia."
O porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Cláudio Costa, afirmou que a desocupação transcorreu dentro do planejado. Quarenta oficiais de Justiça e 1.650 policiais militares participaram da desocupação do edifício, invadido desde a madrugada de 31 de março. Ontem, cerca de 5 mil pessoas estavam no local.



