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Despejados de escola, sem-teto ficam na rua

Polícia cumpre reintegração de posse e desocupa ginásio em Piraquara. Famílias alegam não ter para onde ir

Famílias deixaram os poucos pertences na calçada após o despejo: ocupação impedia o início das aulas | Walter Alves/Gazeta do Povo
Famílias deixaram os poucos pertences na calçada após o despejo: ocupação impedia o início das aulas (Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo)

As famílias sem-teto que estavam abrigadas na Escola Municipal Henrich de Souza, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, foram retiradas ontem do local pela Polícia Militar, durante o cumprimento de uma ordem de reintegração de posse. Elas ocupavam a quadra de esportes do colégio desde dezembro, quando foram expulsas de uma área de invasão na região do Guarituba.Na ocasião, o ginásio foi cedido temporariamente pela prefeitura até que as aulas da rede municipal voltassem, no dia 8 de fevereiro. Com os sem-teto ainda na escola, os cerca de 800 alunos não puderam retornar e a prefeitura se viu obrigada a suspender o início das aulas e entrar na Justiça com um pedido de despejo. Segundo o município, o ano letivo deve começar na segunda-feira.

A desocupação começou por volta das 8 horas, embora os moradores já estivessem acordados desde às 6 horas. "A gente já esperava por isso. Todos os dias ia dormir com medo de que no dia seguinte a polícia viesse. E hoje [ontem] ela veio", disse a dona de casa Josiane Cristina Galdino, 26 anos, que permanecia com os cinco filhos – três dos quais estudam na escola – em frente ao local, por volta das 15h30, quando a desocupação terminou. Quem passava pelo local via dezenas de móveis, pertences e utensílios empilhados em frente ao portão da escola, entre colchões, panelas, galões de água e roupas.

À reportagem, moradores disseram que 17 famílias, com 44 pessoas no total, não tinham para onde ir e deveriam montar os barracos na rua, em frente à escola, e que duas famílias, com três pessoas cada uma, já haviam ido para a casa de parentes. Já a prefeitura afirma que são 16 famílias, das quais oito ainda permaneciam na área. Entre o grupo que permanecia na rua, uma grávida de seis meses, a dona de casa Graziele Verdura de Jesus, de 26 anos, e mais de 20 crianças, entre elas um bebê de 9 meses. "Estamos tomando banho no rio e fazendo comida na rua. O maior medo é com a chuva", afirmou a salgadeira Kelly Regina Gonçalves, ao lado dos dois filhos.

De acordo com a diarista de­­sempregada Zilma dos Santos, 43 anos, acompanhada de três filhos pequenos, a desocupação foi pacífica, mas houve choro na saída. "Não temos para onde ir. Muitos já moravam de favor na casa de parentes antes de ir para o Guarituba e não há quem possa socorrer a gente. Se a prefeitura não ceder um terreno para a gente erguer os barracos, vamos ficar na rua", disse. A alternativa foi defendida pelo advogado das fa­­mílias, Bruno Deschamps Mei­rinho, caso a prefeitura não providenciasse uma nova acomodação. Ele afirmou que a rua, por ser pública, poderia ser ocupada pelas famílias.

Outra ação

Já o secretário de Meio Ambiente de Piraquara, Gilmar Clavisso, afirmou que o município irá ajuizar nova ação pedindo a retirada dos moradores da calçada. "Jus­ta­mente pelo fato de a rua ser pública, não é permitido construir nela, ainda mais sem alvará, de forma insegura. Eles também não podem permanecer ali porque atrapalhariam o ritmo das aulas". Segundo Cla­visso, vários pais afirmaram que não vão mandar os filhos para a escola na segunda-feira caso as famílias não se retirem. Ele disse ainda que o município não pode atender ao pedido dos moradores por um terreno. "Não temos área disponível, e nem dinheiro para criar um programa de habitação. Essas pessoas devem esperar para ser contempladas pelas casas da Cohapar [Companhia de Ha­­bitação do Paraná], que devem sair em um ano".

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