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Taxa de lixo cobrada no carnê do IPTU todos os anos não cobre nem a metade dos custos com o serviço em Curitiba | André Rodrigues/ Gazeta do Povo
Taxa de lixo cobrada no carnê do IPTU todos os anos não cobre nem a metade dos custos com o serviço em Curitiba| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Gastos em alta

Independentemente da opção para destinação final do lixo, as prefeituras da Grande Curitiba precisam encontrar maneiras de baratear o custo de coleta e transporte. Veja informações sobre alguns contratos (*):

• Curitiba tem o contrato de maior valor, com a empresa Cavo, assinado em 2011 pelo valor anual de R$ 129 milhões. Ele foi reajustado para R$ 139 milhões em 2012 e para 2013, um aditivo elevou o custo anual para R$ 154 milhões. Em 2010, em um contrato anterior com a Cavo, o valor pago era de R$ 93 milhões – 50% menos.

• Em 2010, a prefeitura de Almirante Tamandaré realizou pagamentos de R$ 1,2 milhão à empresa Sanetran Ambiental. Em 2012, há registros de R$ 2,6 milhões em pagamentos – variação de 114%.

• O orçamento de Campo Largo para coleta de lixo domiciliar e vegetal previa aplicação de R$ 2,9 milhões em 2010, e R$ 3,5 milhões em 2012 (alta de 18%).

• Em 2010, Fazenda Rio Grande pagou R$ 1,2 milhão para a empresa Inova Ambiental, em um contrato válido desde 2007. Nova licitação feita em 2011 foi vencida novamente pela Inova, que recebeu R$ 2,3 milhões em 2012 (variação de 85%).

• Os valores pagos por Pinhais à empresa Transresíduos passaram de R$ 2,6 milhões em 2010 para R$ 4,7 milhões em 2012, crescimento de 76%.

• A Transresíduos também presta o serviço em São José dos Pinhais. Em 2010, em um contrato emergencial, há registros de R$ 9,4 milhões em pagamentos e, em 2012, de R$ 12 milhões.

(*) Entre 2010 e 2012 pode ter ocorrido a inclusão de mais serviços.

Fonte: Portal do Controle Social, do Tribunal de Contas do Estado do Paraná.

Solução

Poder público aposta na redução do lixo gerado e em aterros pequenos

De acordo com o secretário do Meio Ambiente de Curitiba, Renato Lima, a solução para o problema do lixo também passa pela conscientização da população. "Nós, como cidadãos, podemos gerar menos resíduos. Uma redução de 10% no lixo gerado nas residências significaria uma economia de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões nos cofres públicos ao mês", afirma. Outra ação que vai gerar economia às prefeituras é o credenciamento de novas áreas para aterro. Atualmente, o lixo dos 21 municípios reunidos no Conresol (o consórcio intermunicipal) é encaminhado para uma área da empresa Estre Ambiental, em Fazenda Rio Grande. O contrato, firmado em 2010, venceu neste ano, mas foi prorrogado até 2015. Segundo Lima, a área comporta ainda mais lixo, mas o atual contrato só permitia a renovação por dois anos.

"Se alguma empresa tiver interesse em entrar no credenciamento para fazer a separação de resíduos, basta apresentar uma proposta ao consórcio. Seria muito bom termos novas áreas, especialmente se estiverem localizadas ao norte da Região Metropolitana de Curitiba", afirmou.

Além da questão ambiental, os prefeitos da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) têm uma razão a mais para se dedicarem ao problema da destinação final do lixo: o impacto do serviço nas contas públicas. Levantamento feito pela Gazeta do Povo revela que, entre 2010 e 2012, os valores dos contratos de coleta e transporte de resíduos subiram em média 46% – sem contar o custo do depósito em aterro, que dobrou no período.

Considerando apenas 11 das 21 cidades do Consórcio Intermunicipal para Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (Conresol), responsáveis por 95% do lixo gerado neste ano, o gasto conjunto com coleta e transporte passou de R$ 119 milhões em 2010 para R$ 174 milhões em 2012.

INFOGRÁFICO: O desafio do lixo

A conta envolve os gastos de Agudos do Sul, Almirante Tamandaré, Araucária, Balsa Nova, Bocaiuva do Sul, Campo Largo, Colombo, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Pinhais e São José dos Pinhais. As informações financeiras foram levantadas com base em relatórios disponíveis no Portal do Controle Social, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e em orçamentos municipais.

Das 29 cidades da RMC, 21 fazem parte do Conresol. Juntas, produzem 2,2 mil toneladas de lixo por dia neste ano, número 10% superior ao registrado em 2012. Essa tendência de crescimento é um dos motivos que levam ao reajuste dos contratos de coleta e transporte, já que o pagamento é feito de acordo com o peso. Além disso, reduz a vida útil dos aterros.

Além do gasto de coleta e transporte, os 21 municípios ainda pagam – de forma proporcional ao volume de lixo gerado – pelos resíduos que são levados ao aterro privado em Fazenda Rio Grande. Cada tonelada depositada custa R$ 53,68. Entre janeiro e setembro deste ano, essa operação custou R$ 34,6 milhões aos municípios – R$ 22,8 milhões somente para Curitiba.

Subsídio

O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, declarou no início do mês que o maior subsídio pago no município é justamente para o sistema de coleta de lixo. A taxa, cobrada com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), é suficiente para bancar apenas 42% dos custos. Atual presidente do Conresol, Fruet assegurou que o consórcio busca uma solução definitiva para o lixo e avalia opções para reduzir custos no curto prazo. No começo deste mês, o Conresol suspendeu a licitação para escolha da empresa que iria receber e tratar os resíduos – o processo se arrastava desde 2007 e estava em litígio judicial.

Parceria surge como alternativa mais viável

Uma parceria público-privada (PPP) é a opção mais interessante para viabilizar a concessão do lixo de Curitiba e região metropolitana. Essa é a opinião de Carlos Silva Filho, diretor-executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Segundo ele, o processo licitatório da PPP é mais ágil e a participação do poder público – com contrapartidas financeiras – garante o retorno do investimento, atraindo interesse maior das empresas.

Para o engenheiro civil Carlos Mello Garcias, do setor de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, não há um caminho pré-definido a ser trilhado. "Pode-se inovar nesse campo. Mas todas as questões ambientais e econômicas precisam ser discutidas em audiências públicas, com a participação de todos os atores envolvidos", observa.

O engenheiro Cássio Humberto Versiani Velloso, que já prestou consultoria na área para os Ministérios do Meio Ambiente e das Cidades, destaca que as características específicas da região deverão ser levadas em conta para que o modelo escolhido seja exitoso. Ele faz um alerta quanto às inovações tecnológicas para o lixo. "Volta e meia me deparo com soluções milagrosas. Infelizmente, até hoje nenhum desses ‘cantos de sereia’ se revelou consistente", diz ele.

Garcias diz que a opção por diversificar as soluções é acertada. "Depender de um único aterro ou usina é um absurdo", observa. Velloso faz uma ressalva para a questão da localização. "No que se refere a aterros para consórcios, é sempre conveniente que sua distância em relação às zonas urbanas mais populosas seja a menor possível".

Suspensão

Os entrevistados elogiaram a decisão do Conresol em suspender a licitação lançada em 2007 para escolha de uma empresa para gerir o lixo da região metropolitana. "Aquela licitação foi concebida para uma realidade que não existe mais. As empresas já acumulam mais know-how e terão condições de apresentar boas propostas ao consórcio", diz Silva Filho, da Abrelpe.

Modelo prevê necessidade de até cinco usinas

Ainda são necessários meses de estudo para a definição do modelo definitivo de separação e reaproveitamento do lixo gerado pelos 21 municípios do consórcio Conresol. Mas a equipe técnica do grupo já fez as primeiras projeções, indicando a possibilidade de instalação de quatro ou cinco usinas para atender toda a demanda.

Segundo o gerente financeiro do Conresol, Alexandre Martins, as projeções indicam para a instalação de duas ou três usinas de biogás, que usariam o lixo orgânico como matéria-prima para produzir gás veicular, por exemplo. Os resíduos comuns também poderiam ser utilizados para produção de energia elétrica em uma ou duas plantas. Essa energia poderia ser usada para reduzir o custo dos municípios com iluminação pública, segundo o Conresol.

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