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Sistema prisional

Detentos VIPs mudam a rotina do presídio Bangu 8

Penitenciária abriga ex-banqueiro, médico acusado de fraude em transplantes, deputado, vereador e policiais

Salvatore Cacciola: presença do ex-banqueiro em Bangu 8 aumentou a movimentação no complexo | Marcelo Sayão/Efe
Salvatore Cacciola: presença do ex-banqueiro em Bangu 8 aumentou a movimentação no complexo (Foto: Marcelo Sayão/Efe)

Rio de Janeiro - A movimentação começa cedo: antes das 9 horas, o desfile de mulheres de sapatos com saltos altos toma conta da entrada do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio. Veículos importados e até um carro oficial da Assembléia Legislativa, todos com vidros escuros, trazem as visitantes, carregadas de sacolas e bolsas térmicas com comida. "É um pessoal muito educado", comentava, na sexta-feira, o cabo Faria, após verificar a identificação de Rafaella Cacciola, filha do ex-banqueiro Salvatore Cacciola.

O frenesi em frente do complexo aumentou nas duas últimas semanas, principalmente às segundas e sextas, dias de visita em Bangu 8, como é mais conhecida a Penitenciária Pedrolino Werling de Oliveira, uma das 23 do complexo de segurança máxima. Ela virou a prisão mais VIP do Rio. Além de Cacciola, estão lá, entre outros, o médico Joaquim Ribeiro Filho, acusado de fraude nos transplantes, o deputado estadual Natalino Guimarães (DEM) e seu irmão, o vereador Jerominho (PMDB).

Até janeiro, a prisão era privilégio de policiais, bombeiros e agentes penitenciários que respondessem a processos. Mas o governador Sérgio Cabral mandou fechar a carceragem da Polinter conhecida como Ponto Zero, na Zona Oeste, destinada a presos com diploma universitário. O lugar concentrava tantas irregularidades que a Justiça Federal do Rio o definiu como "colônia de férias". Em seu despacho, o juiz Vlamir Costa Magalhães relacionou as regalias: "Contratação e o atendimento, in loco, de garotas de programas, promoção de festas, churrascos e peixadas".

Aparentemente, as mordomias acabaram em Bangu 8. Mas tanta gente influente junta dá trabalho. "Está um inferno: milionário, policial civil, deputado, miliciano e bicheiros juntos – é demais para os agentes penitenciários darem conta", comenta um policial que prefere não ser identificado.

O subsecretário adjunto de Tratamento Penitenciário, major Márcio da Silva Rosa, admite que o trabalho aumentou. "É mais fácil administrar Bangu 1 (onde estão os chefões do tráfico de drogas) do que o Bangu 8", compara. "As tentativas de interferência atrapalham, mas estão todos submetidos às regras do presídio, inclusive o senhor Cacciola."

Com o cabelo cortado rente, para evitar piolhos, Cacciola divide um beliche com o deputado Natalino. "Não se sabe se ele ri por cinismo ou nervosismo, mas parece muito tranqüilo", diz a mulher de um policial preso, que prefere não se identificar.

Carlos Eluf, advogado do ex-banqueiro, diz que ele está deprimido. "Bangu 8 não atende aos requisitos de uma prisão especial", lamenta. Não há chuveiro com água quente. A quadra onde os detentos pegam sol das 8 às 13 horas é pequena. Todos dividem uma tevê de 14 polegadas. Não há celas individuais. Uma vez por semana eles podem jogar futebol, mas as bolas furam quando batem na cerca de arame farpado.

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