A psicóloga Iara Thielen, criadora, em 2001, do Núcleo de Psicologia do Trânsito da UFPR, se tornou uma das vozes mais lúcidas do estado na sua área de especialidade. Outra referência no setor é a também psicóloga Maria Helena Gusso Mattos, coordenadora do setor de Educação para o Trânsito, do Detran-PR. Confira as dicas deixadas pelas estudiosas.
Frota de veículos
"Um milhão de veículos equivale a um milhão de problemas", provoca Iara, diante de uma constatação nada agradável: o trânsito não é visto pela população como um espaço de sociabilidade, mas de competição e status. As próprias auto-escolas, comenta Thielen, funcionam como cursinhos pré-vestibulares, privando alunos do debate sobre a convivência nas ruas. "O espaço físico não se amplia, e quem sai perdendo são sempre os pedestres. Os semáforos não estão a favor de quem anda a pé. Demoram 15 segundos. O que isso significa para quem tem 60 anos?", questiona. Maria Helena Gusso Mattos acha necessária uma mudança gradual de mentalidade entre os motoristas. "É preciso aprender a deixar o carro em casa. Isso leva tempo", adverte.
Espaço urbano
Para Thielen, é evidente que a cidade está a serviço da frota de veículos. "Temos uma sensação de impotência diante da cultura do automóvel. Não se trata de ir e vir, mas de status. Não é fácil mudar esse esquema mental", diz a estudiosa. Ela conhece casos de protagonistas de verdadeiras tragédias de trânsito e que nem assim mudaram seu comportamento. "É fácil identificar quem já considere comum ferir alguém no trânsito", diz.
Poder público
Iara se diz frustrada diante da posição tomada pelo poder público na gestão do trânsito. "Estamos perdendo uma grande oportunidade", diz, sobre o lugar que se projetou mundialmente pelas soluções inteligentes. Na esteira, critica os sinalizadores de radar. "Esses avisos demonstram fragilidade das autoridades em exercer seu dever regulatório. É como dizer no auto-falante do estádio de futebol em que portaria vai haver revista de armas."
Maria Helena considera que a inflação de veículos é um fenômeno recente, e não há soluções num estalar de dedos. "O primeiro carro em Curitiba é de 1903. Em 1940, a cidade já tinha 40 mil automóveis. Sem falar no salto tecnológico da indústria automobilística", diz.
Soluções
Incentivo às ciclovias. Thielen lembra que não há uma imagem positiva e incentivada do ciclista na cidade. A especialista reforça que existem inúmeras boas soluções em outros países que poderiam ser estudadas aqui. Um exemplo são as pistas exclusivas, em alguns estados dos EUA, para quem levar mais de três pessoas no carro. Trata-se de um conforto para quem não faz do trânsito um hábito solitário.
Um dos focos de mudança, alerta Maria Helena, reside justamente na educação dos jovens e no exemplo dado pelos adultos. "A falta de profundidade no debate do trânsito leva a distorções graves. Basta ver as pesquisas. Ninguém, nunca, se acha agressor, mal-educado, indisciplinado, mas vítima do outro motorista."



