
Uma denúncia anônima levou o Grupo de Diligências Especiais (GDE) da Polícia Civil a fazer a maior apreensão de cocaína já realizada em Cascavel, no Oeste do estado. O chileno German Enrique San Martin Silva foi preso na madrugada de segunda-feira transportando 69,5 quilos da droga escondidos dentro do tambor de ar de um caminhão. A apreensão é resultado de um hábito cada vez mais comum no Brasil e no Paraná: a utilização dos disques-denúncia.
De acordo com dados divulgados pelos principais canais de comunicação entre entidades e a sociedade, como o disque-mulher (180) e o disque-criança (100), foram recebidas, de todo o país, em 2010, 400 mil chamadas a mais do que em 2009. Ao todo, no ano passado, os principais disques-denúncia nacionais receberam 3 milhões de ligações, um aumento de 15% entre um ano e outro.
O disque-denúncia mais conhecido e utilizado no Paraná é o narcodenúncia 181. Desde que foi criado, em 2003, mais de 8 toneladas de cocaína, 7 milhões de pedras de crack e 576 toneladas de maconha foram apreendidas com o apoio das chamadas recebidas. O serviço recebeu mais de 35 mil ligações em 2010, 2 mil a mais que em 2009 e 25 mil a mais que em 2003, quando foi criado.
Segundo o coordenador do Narcodenúncia 181, o tenente-coronel Jorge Costa Filho, o número das apreensões também aumenta ano a ano. Em 2010, por exemplo, foram apreendidas 1,9 milhão de pedras de crack, contra 1,3 milhão em 2009. "Quando existe um canal de confiança para denunciar, a população colabora. O Estado tem que fornecer a ferramenta, apurar as denúncias e fazer as prisões", afirma Costa Filho.
Todos os disques-denúncia do Brasil funcionam basicamente da mesma forma. Quando a pessoa liga, a denúncia normalmente é gravada e investigada. Todos os serviços de denúncia no Brasil são gratuitos e em nenhum deles é necessário se identificar.
A polícia explica que, quando uma pessoa for denunciar, é importante que ela tenha o maior número de detalhes. Se o objeto da denúncia for o tráfico de drogas, por exemplo, ela deve procurar saber o nome, o apelido do suspeito, o local e horário onde ocorre o tráfico, ou qualquer outra informação que a polícia possa usar.
Canais importantes
De acordo com o professor do curso de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Luis Flávio Sapori o disque-denúncia, seja ele qual for, presta um importante serviço não apenas para polícia, mas para todas as entidades de defesa da sociedade. "À medida que os canais de participação entre os órgãos e o cidadão comum são abertos, as informações acabam chegando. Informações que são fundamentais, não apenas na repreensão, mas na prevenção de crimes e delitos", explica.
O advogado Renato Roseno, ex-conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, afirma que a experiência do disque-denúncia é interessante e tem dado certo no Brasil. "Havendo um canal confiável de comunicação, com um atendimento sério e profissional, que funcione 24 horas, a sociedade naturalmente vai responder. Mas é imprescindível que o Estado dê a resposta", defende.
Na opinião do coronel Rui César Melo, ex-comandante geral da Polícia Militar de São Paulo, a partir do momento em que a população denuncia, ela não está apenas ajudando a polícia, mas toda a sociedade. "A polícia precisa chegar aos problemas, mas precisa saber onde eles estão. E os disques-denúncia, gratuitos e anônimos, cumprem muito bem esse papel, basta que a população tenha coragem e ligue", diz.



