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Previsões é o tema da Acadêmicos do Litoral, escola de samba presidida por Dona Milene | Débora Alves/Gazeta do Povo
Previsões é o tema da Acadêmicos do Litoral, escola de samba presidida por Dona Milene| Foto: Débora Alves/Gazeta do Povo

Remanescente

Dona Milene é a única viva entre os fundadores da escola de samba Acadêmicos do Litoral. "Me dói o coração lembrar deles", afirma, em referência aos amigos Sérgio Peixoto da Silva e Nelson Uberna, que fundaram com ela a agremiação. No começo da escola, o ponto de encontro dos sambistas e primeiros foliões era a Praça Fernando Amaro, em Paranaguá.

Os cabelos crespos e brancos tingidos pelo tempo e uma pequena perda da capacidade auditiva são alguns dos poucos sinais da idade de Milene Rosa Gomes, a Dona Milene. Personagem famosa do carnaval litorâneo, a foliã tem como essência de vida o samba. Neste ano, ela comemora bodas de ouro com a avenida.

Os passos estão mais lentos, é verdade. Mas a energia da senhora de 87 anos é de dar inveja. "Eu faço tudo. Sou a primeira a acordar, às 6 horas da manhã. Quando posso, vou a São Paulo fazer minhas compras. Eu tenho uma internet na minha cabeça, contas eu faço no pensamento e histórias eu tenho guardadas na memória", provoca, com sorriso no rosto, uma das fundadoras e a atual presidente da Escola de Samba Acadêmicos do Litoral, a verde e rosa de Paranaguá. A esperteza e lucidez não podem ser atribuídas a uma longa vida de estudos. Parou na 4.ª série do ensino fundamental porque tinha dificuldades para chegar à escola.

Adoções

Quando criança, morava em Laguna, Santa Catarina. Mas cresceu e acabou se apaixonando por outra cidade. "Dizem que quem bebe a água de Paranaguá não quer ir embora, né?". Na terra de Fernando Amaro e Júlia da Costa, 14 filhos foram criados – dois biológicos e doze adotivos – além de um número de netos, bisnetos e até tataranetos que o computador interno de Dona Milene não soube informar. "São muitos", resume.

"Criei 14 filhos e nunca deixei ninguém sem comer. Eu dou um prêmio se tiver outra Milene que faça hoje tudo o que eu já fiz e ainda faço", conta, orgulhosa, a mãe que afirma nunca ter deixado os filhos para que outras pessoas cuidassem. "Ou eu levava comigo ou ninguém ia. Mãe tem um monte por aí, tem que saber ser mãe. Hoje muitas não têm coragem de criar os próprios filhos", opina.

A mãe-coruja tem boa parte dos filhos e netos morando bem perto dela, na mesma rua, próxima ao barracão da escola, na Vila Guarani. Mas na casa da Dona Milene só mora ela.

Os muitos familiares somados a amigos e vizinhos resultam nos 380 componentes da escola que desfila no grupo especial do carnaval parnanguara. Em meio século de avenida, boa parte na verde e rosa do Litoral, Dona Milene já fez "e ainda faz" de tudo. "Fui nascida e criada no samba. Meus pais eram sambistas e eu já desfilei como porta-bandeira, musa da escola, carnavalesca. Eu sou para o que der e vier. Tenho samba no pé, sambo até sem música", avisa aos desinformados.

Samba no pé

Saúde, inclusive, também é outra vantagem que conta sem pudor. "Não tomo um comprimido. Não tenho nem dor de dente, até porque dente eu não tenho mais", brinca.

Entre as qualidades, a voz grave merece destaque. O talento é hereditário, pode-se concluir, ao ouvir o trecho que aprendeu com os pais: "Nasci e me criei no samba e no samba eu quero morrer", lembra. "O que eu quero é ser feliz, o meu amanhã só Deus sabe", entoa um trecho do enredo do Acadêmicos do Litoral em 2015.

Ano após ano, ela volta para a avenida, com sua presença imponente e delicada. "Eu estou nessa de ser feliz, sabe? Como diz o enredo. Eu espero ansiosa pelo Carnaval e uma mulher da minha idade ir pra avenida, ter samba no pé e presidir uma escola é nosso cartão de visita", provoca de novo a presidente que prepara um desfile com o tema Previsões. Os carnavalescos são o neto de Dona Milene, Adriano Roberto Lourenço, e a mulher dele, Cyntia Nunes Pereira.

A escola

Fundada por Dona Milene, Sérgio Peixoto da Silva e Nelson Uberna em 1972, a Acadêmicos do Litoral tem como madrinha a escola de samba Mangueira. Em 1978, a tradicional escola de samba do Rio de Janeiro batizou a afilhada parnanguara, que ganhou as cores verde e rosa.

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