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Agora cabeleireiro, Antonio dos Santos, 63 anos, só teve coragem de abrir seu salão depois de se aposentar como mecânico | Fotos: Fábio Dias/Gazeta do Povo
Agora cabeleireiro, Antonio dos Santos, 63 anos, só teve coragem de abrir seu salão depois de se aposentar como mecânico| Foto: Fotos: Fábio Dias/Gazeta do Povo

Mercado

O número de empreendedores maduros no mercado de trabalho tem aumentado nos últimos anos.

Patrão

Segundo dados da Agência Nacional de Desenvolvimento Empresarial (ANDE) e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), 4,3% dos empreendedores do Brasil têm entre 55 e 64 anos, ou seja, são idosos. A pesquisa foi feita em 2009 pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), maior estudo independente do mundo sobre a atividade empreendedora, que no Brasil conta com a parceria do Sebrae.

Empregado

Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, mostram que é crescente a participação de pessoas de idade mais avançada no mercado. Na última pesquisa, de 2008, 13% dos empregos formais do país eram ocupados por trabalhadores com mais de 50 anos. Havia cerca de 300 mil trabalhadores com 65 anos ou mais. No mesmo ano, 376 mil empregos foram gerados para essa faixa etária, o que representa um aumento de 8,17% em relação ao ano anterior.

Planejamento aumenta chance de sucesso

Não existe uma receita para se tornar um empreendedor bem-sucedido após os 60 anos. Mas os consultores empresariais dão orientações para que a empreitada tenha mais chance de sucesso. A primeira dica é a pessoa saber se tem vocação para abrir o comércio. "Para descobrir isso é simples. Basta saber se entende do assunto ou domina a área. Conhecimento específico é algo que não pode faltar", explica o consultor do Sebrae Emerson Cechin.

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  • Maria Aparecida, 53 anos, vai abrir uma loja de materiais de construção

Eles trocaram o sossego da aposentadoria pelo dia a dia puxado atrás do balcão da lanchonete, da loja de material de construção ou do salão de beleza. Só que agora não são mais empregados. Eles assumiram suas próprias empresas. Para o consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Ma­­ringá, Emerson Cechin, os empresários tardios têm vantagens competitivas que podem ser exploradas no empreendedorismo: tendem a dar certo por causa da experiência e maturidade. "Eles conseguem lidar com os desafios e problemas com mais equilíbrio. Gostam de planejar e sabem encarar a concorrência de frente". Outra vantagem é que os mais velhos têm mais jogo de cintura para lidar com os riscos de uma empresa. Passar de empregado a patrão depois dos 60 anos exige cuidado e planejamento. Não se trata de substituir o ócio da aposentadoria por uma atividade que garanta distração e espante o tédio. Não há muito espaço para erros. Cechin observa que os jovens têm condições de realizar novos investimentos, caso fracassem nas primeiras tentativas. E a possibilidade fica mais restrita, no caso de pessoas com idade avançada. "As diferenças entre os mais jovens e os mais velhos podem ser superadas com um bom plano de negócios. Para isso, é preciso procurar apoio profissional. Isso dará mais planejamento e tranquilidade para o idoso abrir o empreendimento", aconselha o consultor.

A iniciativa de trabalhar por conta própria depois da aposentadoria é apoiada pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Para ele, para o empreendedorismo na terceira idade crescer é preciso acabar com os preconceitos. "Pessoas com mais idade podem – e devem – trabalhar ou abrir seu próprio negócio. É uma parcela da população com experiência que os jovens não têm para se tornarem empresários".

Em muitos casos, a decisão de empreender em uma idade avançada vem da vontade de garantir uma vida ativa após a aposentadoria e também uma renda mais alta. "Trabalhei toda minha vida como vendedor e ajudante de depósito de material de construção. Aos 70, quando me aposentei, o desespero bateu e eu não conseguia ficar em casa. Achei que iria entrar em depressão. Foi aí que tive a ideia de abrir um pequeno comércio", conta Arnaldo Santi, 72 anos, dono de um comércio que vende água de coco. Há um ano, ele abriu uma pequena barraca. Depois de seis meses, percebeu que poderia crescer e, então, com a ajuda de consultores especializados, abriu uma empresa formal.

O mecânico aposentado Antonio dos Santos, 63 anos, investiu no seu talento para cortar cabelo depois de duas décadas trabalhando com graxa e motores. "Há dois anos, abri um pequeno salão, depois expandi e hoje tenho várias cabeleireiras", conta. Quando ainda trabalhava na oficina, Santos cortava o cabelo de vizinhos e familiares nos fins de semana. "Todos sempre comentavam que eu precisava abrir um salão e deixar de ser mecânico, mas a coragem para fazer isso só veio depois da aposentadoria". Antônio tinha medo de não conseguir pagar as contas apenas cortando cabelos. Para aliar o talento com o desejo de empreender, fez cursos e treinamentos e procurou consultoria especializada. "É algo que sempre gostei de fazer. Agora só me dedico a isso e quero continuar por muitos anos fazendo cursos, cortando cabelos e, quem sabe, contratando mais funcionários."

Fuga da rotina

Prestes a abrir a loja de material de construção que idealizou com o marido, a dona de casa Maria Aparecida Conchon, de 53 anos, decidiu trocar a rotina doméstica para entrar no mercado de trabalho e como patroa. A motivação começou dentro da família, com o sucesso das empresas de tios, primos e do filho. "Vi todos eles crescendo no ramo dos negócios. Juntei meu dinheiro e agora tenho o meu", conta. Com a experiência do companheiro, representante comercial no setor há 20 anos, Maria Apa­­recida se prepara para assumir a empresa. "Maringá é uma cidade rica, com um potencial muito forte nessa área. Por isso, investi em materiais de construção. Quero crescer, vender muito e expandir meu negócio", revela.

A afinidade com o setor pode ser o trunfo para Maria Aparecida atingir o sucesso. Ela já foi dona de uma loja de eletrodomésticos há mais de 20 anos. Mas a rotina do comércio a cansou. "O faturamento era muito bom e dava para continuar, mas eu optei pela minha paz pessoal e para me dedicar aos netos. Desta vez será diferente porque amo trabalhar com materiais de construção e estou bastante descansada. Por isso, não vou enjoar", conta a empresária. A empresa está em fase de acabamento. Em menos de 10 dias, as portas estarão abertas. "Ficar em casa não faz mais parte da minha rotina. Agora, sou empresária e estou muito feliz."

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