
A proposta de criação de 1,5 mil novas vagas e 21 cursos pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do governo federal, divide opiniões na Universidade Federal do Paraná (UFPR). No meio de um impasse que culminou na ocupação pelos estudantes do prédio central da Reitoria, a adesão da universidade ao programa foi aprovada em outubro. Para alguns, a decisão significa a oportunidade de mais pessoas ingressarem no ensino superior e de maiores recursos. Do outro lado, há quem vê a perda na qualidade e o temor de que a estrutura já debilitada irá sofrer com a entrada de novos alunos.
O setor de Ciências Exatas, por exemplo, sente hoje a falta de laboratórios de informática, salas de aula, professores e técnicos-administrativos. "Há preocupações sérias em colocar alunos com expectativa de terem uma boa formação e não termos estrutura física, docentes e servidores", afirma a diretora do setor, Sílvia Helena Schwab. Uma das causas da dificuldade é que o setor oferece disciplinas a alunos de outros cursos, como Engenharia Industrial Madereira, que irá abrir nova turma em 2009.
"Como a universidade quer ampliar as vagas se atualmente temos esse problema de infra-estrutura?", questiona o chefe do Departamento de Física, Lauro Luiz Samojeden. Ele aponta que em um dos laboratórios, no Centro Politécnico, garrafas térmicas substituem o jogo de calorímetro (instrumento para medir a quantidade de calor).
No laboratório de Química, cerca de 35 universitários dividem o espaço que deveria atender no máximo 20. "Ninguém tem nada contra aumentar o número de alunos desde que se tenha condições. Nossos laboratórios não têm ventilação adequada nem porta de emergência", afirma o chefe do Departamento de Química, Alfredo Marques de Oliveira.
Metas
Além da expansão de vagas, o Reuni exige elevação da taxa de conclusão média dos cursos até 2012. Do total de vagas ofertadas no início do curso, em pelo menos 90% delas têm de haver diplomação. O índice da UFPR está hoje em 72%.
Para a diretora do setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Maria Tarcisa Silva Bega, nem Estados Unidos e Europa têm 90% de aprovação. O setor de Humanas registra índices que vão de 18% de diplomação em Filosofia a 95% em Comunicação Social.
O setor de Educação propõe uma mudança do método de ensino para atingir a meta do Reuni. "A médio prazo, se todos se conscientizarem dessa meta e estiverem dispostos, impossível não é. Pedagogia e Medicina aprovam acima de 90%", diz a diretora do setor, Ettiène Cordeiro Guérios. Ela não esconde críticas à Reitoria: as salas de aula estariam muito cheias e os laboratórios de Pedagogia não teriam sido instalados por falta de espaço.
Outra meta do Reuni é aumento na relação de 14 alunos por professor para 18. "É um fator de grande preocupação para os professores, pois sabemos que este aumento vai afetar a qualidade do ensino e da pesquisa desenvolvida hoje na UFPR, sem que haja contratação adicional", afirma a presidente da Associação dos Professores da UFPR, Arislete Dantas de Aquino. Em 2002, a relação era de 11 alunos por professor. O projeto da UFPR enviado ao MEC prevê contratação de 235 professores com dedicação exclusiva e 396 técnicos-administrativos. "A implantação do Reuni depende de como as coisas vão ser conduzidas nos próximos anos. Hoje a universidade tem muitos espaços vagos", diz o coordenador-geral de administração e finanças do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Érico Massoli Ticianel.
O curso de Direito, que deverá abrir a partir de 2009 mais 28 vagas, poderia fazer a expansão hoje, segundo o coordenador Edson Isfer. "Todas as metas que o Reuni impõe estão praticamente implementadas. Temos um índice de conclusão de curso próximo a 90% e o número de vagas é possível inserir com a estrutura física que temos hoje." Também o assessor da direção da Escola Técnica, Pedro Pacheco, comemora a instalação de cinco novos cursos. "Temos toda infra-estrutura e corpo técnico qualificados."
Para o diretor do setor de Tecnologia, Mauro Lacerda, o projeto do Reuni é de cinco anos e há tempo de a universidade se preparar para a expansão. "Somos uma instituição pública e temos a obrigação, mesmo com dificuldades, de atender a demanda que existe e vamos fazê-lo com qualidade", prevê.



