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Comportamento

É sempre hora de comer costela

Churrascarias 24 horas reúnem baladeiros e pessoas que acabaram de sair do trabalho

Multimídia | Reprodução/Globo
Multimídia (Foto: Reprodução/Globo)

Cinco horas da manhã de uma quinta-feira fria e chuvosa. Na mesa do restaurante, os clientes parecem velhos amigos. Comemoram a chegada da costela e pedem mais uma cerveja. Dão risada, trocam abraços e fazem piadas uns com os outros. Apesar da aparente intimidade, o empresário Vinícius Ribeiro, de 23 anos, e as amigas Rosângela Ribeiro dos Santos, vendedora, 39 anos, e Célia Sampaio, também empresária, 35 anos, acabaram de se conhecer. Trocaram as primeiras palavras em um bar country, três horas antes. Antes de ir para casa, resolveram matar a fome. Pararam em um costelão 24 horas, no Hauer, e já nem falam mais em ir para a casa, apesar do horário. "E alguém aqui tem de trabalhar amanhã?", questiona um eufórico Vinícius. Dando risada, Rosângela e Célia confirmam que têm hora para acordar e completam: "Não é amanhã. É daqui a pouco."

A cena é mais comum do que se imagina. Comer costela assada – seja em que horário for do dia ou da madrugada – virou hábito em Curitiba. Há pelo menos sete churrascarias funcionando dia e noite na cidade. O costelão, como é chamado esse tipo de restaurante, é um espaço democrático – custa, em média, R$ 10 por pessoa e se come à vontade – em que baladeiros e namorados dividem a mesa com que acabou de sair ou vai trabalhar. "Taxistas, operários que trabalham nas fábricas de madrugada. Todo esse pessoal vem pra cá. Depois do show do Evanescence (banda americana que tocou em Curitiba no mês passado), os seguranças vieram todos comer aqui", conta Ireno Griz, sócio-proprietário e um dos assadores do costelão mais tradicional da cidade.

O gerente do restaurante, Joanílson Andrade, conta que está acostumado com o público animado da madrugada. "O pessoal se conhece na balada e vem pra comer uma costela", diz, com a experiência de quem viu amizades e casais se formarem em 14 anos trabalhando entre 22 horas e 6 horas da manhã. Calejado, ele também sabe, só de olhar, quando os clientes querem descrição e alerta a equipe da reportagem: "Tem uma outra mesa ali em que o pessoal pediu para não ser fotografado. Sabe como é. Não queremos complicar o casamento de ninguém."

Pedidos

A empresária Marisa Catarina Griz, sócia do restaurante, conta que a idéia de abrir por 24 horas surgiu para atender pedidos dos funcionários da compensação do antigo Bamerindus, que trabalhavam a noite toda ali perto, na Avenida Marechal Floriano, no Hauer. "Eles pediram para a gente abrir mais cedo para, quando saíssem do banco, terem onde comer."

Ireno tem outra versão para o começo das atividades noturnas. Na lembrança dele, foram os pedidos para prolongar a hora do fechamento os responsáveis pelo trabalho ininterrupto. "O pessoal ficava bebendo de madrugada. Sempre pedindo mais uma, mais uma. Como a gente começava a colocar a costela para o outro dia, vinha o cheirinho e eles pediam um pedaço. Aí foi ficando e nem fechamos mais", recorda.

Quando o costelão 24 horas iniciou as atividades trabalhavam no local Ireno, Marisa e seu marido. Hoje são 22 funcionários que trabalham em três turnos. Tudo, segundo os proprietários, em uma espécie de operação de guerra, em que assadores, garçons, gerentes e o pessoal da cozinha se desdobram para garantir 3,5 toneladas de costela assada, por semana, nas mesas dos clientes. "Muita coisa mudou", diz Irineo.

Os tradicionais clientes concordam. O comerciante Paulo Rothert, 42 anos, freqüenta o costelão antes mesmo de ele se tornar 24 horas e lembra da época em que o telhado era coberto com lona de caminhão. "As cinzas caíam da churrasqueira e furavam a lona. Parecia que tinham enchido o lugar de tiros", recorda.

Serviço: Costelão do Gaúcho, Rua Doutor Júlio César Ribeiro de Souza, Hauer, (41) 3377-2704; Costelão do Alto da XV, Rua Marechal Deodoro, 1805, (41) 3078-4715. Costelão Curitibano, Rua Chile, 1.746, Água Verde, (41) 3332-3563. Costelão do Havana, Rua Silveira Neto, 144, Água Verde, (41) 3243-2262. Costelão Bacacheri, Rua Erasto Gaertner, 26, Bacacheri, (41) 3377-2704. Costelão Kathedral, Rua Barão do Cerro Azul, 81, Centro, (41) 3233-9384. Galpão da Costela, Rua Doutor Júlio César Ribeiro de Souza, Hauer, (41) 3376-2830.

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