A Editora Ética se prontificou a recolher os 13,5 mil exemplares da coleção Vivenciando a Cultura Afro-Brasileira e Indígena, vendida, com dispensa de licitação, por R$ 600 mil para a prefeitura de Londrina. A empresa também se comprometeu a revisar o conteúdo da obra, que foi apontada como inadequada por apresentar um conteúdo racista, junto com autoridades locais. A informação foi dada pelo advogado da editora, Antonio Victor Leal, durante entrevista coletiva na manhã de ontem.
Leal não admitiu, em princípio, ter havido troca do material comprado pelo município, como argumentou a Secretaria de Educação na semana passada. A gestora pública de promoção da igualdade racial da prefeitura de Londrina, Maria de Fátima Beraldo, garantiu que os livros foram trocados. Por recomendação do Ministério Público, os exemplares foram recolhidos.
Os cinco livros que formam a coleção, destinada a crianças de 1.º a 5.º ano, foram qualificados por especialistas como preconceituosos, racistas e historicamente incorretos. Além disso, há erros conceituais, de ortografia e gramática. O advogado da editora disse que os livros foram feitos por especialistas, mas que as diferenças culturais brasileiras podem gerar polêmica.
"O Brasil é um país com dimensões continentais e isso pode acontecer. A editora respeita as diferenças de pensamento e tenta reverter sem causar prejuízos ao município. Vamos fazer uma nova análise com as lideranças locais e adaptar se for necessário", afirmou Leal. Ele disse ainda que os erros gramaticais e a possível troca de coleções também estão sendo avaliados.
Parecer
Quase dois meses após a aquisição dos livros, a Secretaria Municipal de Educação de Londrina ainda não mostrou o parecer pedagógico que embasou a aquisição do material. "Hoje não tenho esse parecer aqui. Não está comigo", afirmou a secretária Karin Sabec, em coletiva na sexta-feira, após voltar de férias. Ela disse que abriria uma investigação sobre o caso .
A secretária evitou condenar a editora e os livros da coleção. Pelo menos cinco pareceres de especialistas, acadêmicos e estudiosos do tema, elaborados a pedido do Ministério Público, afirmam que o conteúdo do material reforça o preconceito contra indígenas e negros. "Tudo é uma questão de interpretação", afirmou Karin. Ela disse ainda que a gravura de uma criança branca urinando em um menino negro, que está em um dos livros, "tem um contexto". "Tudo vem acompanhado de uma explicação e a figura não deve ser entendida isoladamente. Não analisei, não quero julgar nem fazer nenhum juízo de valor antes de saber o que aconteceu".
Para o promotor Paulo Tavares, que pediu o recolhimento dos livros, o material é inadequado. "Todos os pareceres corroboram que o material é nocivo à formação das crianças. A coleção desrespeita a história e a cultura negra e indígena", criticou.



