
Mesmo contando com metade das dez Unidades Paraná Seguro (UPS) instaladas na capital, a Cidade Industrial de Curitiba, na região sul, ainda é o bairro que concentra o maior número de homicídios na cidade, de acordo com dados de 2012. Foram 98 assassinatos no ano passado. Entre janeiro e março deste ano, ocorreram 24 mortes, dez só em março.
É fato que houve diminuição de 15% do número de homicídios no bairro nos primeiros três meses de 2013. Mas o baixo índice de queda a porcentagem corresponde a quatro assassinatos e o alcance restrito das UPSs têm colocado a eficácia do modelo do programa em dúvida. Soma-se aos números a reclamação da população sobre falta de mobilidade dos policiais, que, chamados para ajudar, se negam a sair de dentro do contêiner sede da unidade e a sensação de insegurança é ainda maior.
"Eu diria que, na melhor das hipóteses, é um modelo que precisa ser aperfeiçoado ou que nasceu com problemas", afirma o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos da Violência e Direitos Humanos da UFPR. Para ele, um ponto positivo, no entanto, é que a UPS foi testada.
A suposta ineficácia do programa tem sido decretada por vários moradores da região, que pedem ajuda e sentem na pele a falta de segurança. O CIC tem cinco UPS na Vila Nossa Senhora da Luz, Vila Sabará, Caiuá, Vila Verde e Vila Sandra.
Para Bodê, a UPS é uma saída que se buscou com a estrutura que se tem. No entanto, justifica o sociólogo, o problema estrutural das polícias precisaria ser resolvido para poder alavancar a segurança pública. "É fundamental que, para que isso ocorra, haja a desmilitarização da Polícia Militar e a unificação das polícias do país".
No molde dos módulos
O sociólogo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cézar Bueno defende a tese de que as UPSs atuais são os antigos módulos. "Acho que falta comprometimento para mudar o policiamento no estado. O poder público se levanta na hora do clamor popular com modismos e, depois, tudo volta ao que era antes", critica.
Na avaliação dele, é preciso romper paradigmas. Também já passou da hora, diz o sociólogo, de pensar a médio e a longo prazo. "Esse modelo atual pode dar resultado no começo, mas frustra depois. É preciso mudar a estrutura", analisa.
Um policial que trabalha na UPS foi ouvido, mas não quis se identificar. Ele afirmou que a unidade é apenas para ser vista e não para realizar o atendimento nas ruas. "É só para que vejam a gente. Não posso sair", afirma. Ele mesmo avalia ser difícil atingir ruas fora do alcance dos olhos dos policiais. "De certa forma até inibe [a ação dos criminosos], mas não podemos deixar a UPS sozinha", explica.
"Na base, faz muito frio ou muito calor"
Instalada em um terreno baldio de chão batido, ao lado do caminhão de uma igreja evangélica que busca ajudar dependentes químicos, a UPS da Vila Sabará conta com dois policiais e uma viatura. No dia 15 deste mês, o assassinato a tiros de um rapaz de 18 anos em uma casa na Rua Nelson Rieke, na área coberta pela UPS, havia movimentado a base da PM.
Parte do efetivo da base se reveza entre o contêiner e o Regimento de Polícia Montada Coronel Dulcídio, no Tarumã. Em dias de calor, conta um soldado, o rodízio acaba sendo mais intenso. "Na base, faz muito frio ou muito calor. Tem ventilador, mas não adianta. O jeito é um ficar enquanto os outros se revezam nas rondas."
Para o comandante da UPS Vila Sabará, aspirante Diogo Alexandre Ziliotto, a segurança no local melhorou. "Mas homicídio não tem muito como coibir", afirma. Na avaliação dele, se a polícia está perto ou não, a dificuldade é a mesma, pois a motivação desse crime costuma ser passional ou acerto de contas.
Ele acredita que a presença da UPS diminuiu a ostensividade dos traficantes, que vendiam droga à luz do dia. Ziliotto acredita em um fenômeno migratório. De acordo com o policial, muitos criminosos saíram do Sabará para a Vila Barigui, onde não há UPS.
Impressões
População reclama da falta de alcance da cobertura policial
Durante a semana passada, a Gazeta do Povo visitou todas as cinco UPSs da CIC e conversou com moradores da região. O principal problema apontados por eles é a falta de segurança longe das unidades.
Um morador da Vila Verde, por exemplo, contou que uma vizinha tentou se matar em seu estabelecimento, em uma das vilas. Ele pediu ajuda. "Me falaram para ligar para o Samu. Nem o telefone o policial tinha. Por que ele não podia ligar?", questiona. A população local ouvida pela reportagem pediu para não ser identificada, já que ainda persiste o medo de retaliação.
Para um aposentado ouvido na Vila Nossa Senhora da Luz, o policiamento de proximidade não tem dado certo. "Eles mandam telefonar para o 190. Já precisei dos policiais da base uma vez ", conta. Morador do bairro há 40 anos, ele diz já ter ouvido vizinhos reclamarem do serviço restrito. "O sistema é que é ruim, o policial não tem culpa", pondera.
No Caiuá, a população próxima do contêiner está satisfeita, mas alerta. "Tem um ponto de venda de droga aqui para cima, que continua", afirmou um morador da Rua Marco Antônio Malucelli. Na Vila Sandra, a casa de alvenaria de difícil acesso onde fica a UPS da região é considerada informalmente por policiais militares a de melhor infraestrutura do CIC. O local foi o único que não teve uma reclamação direta.
Colaborou Camille Cardoso



