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Fronteira entre possível e proibido não é nítida

Israel instalou uma embaixada no Cairo há apenas 30 anos. Desde então, o debate sobre como lidar com Israel ficou ainda mais complicado, com mais sutilezas, à medida que o governo e intelectuais tentam navegar entre o desejo de preservar uma paz fria enquanto também se dobra à economia pragmática, realidades políticas e sociais, dizem analistas. O Egito não tem apetite de normalizar as relações com Israel.

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Numa viela cheia de curvas, no meio de um bairro tranquilo de ruas esburacadas e carroças puxadas por burros, onde barraquinhas de comida vendiam sanduíches baratos e crianças corriam atrás de uma bola de futebol, um momento extraordinário ocorreu sem que muitas pessoas percebessem: judeus, muçulmanos, israelenses e egípcios se uniram para celebrar seu patrimônio em comum. Porém nenhuma pessoa fora do pequeno grupo de convidados foi autorizada a presenciar tal celebração.

O Egito gastou US$ 1,8 bilhão para restaurar parte de seu passado histórico – a sinagoga e o gabinete do rabino Moses Ben Maimon, conhecido no Ocidente como Maimônides, o físico e filósofo do século 12 que é considerado um dos estudiosos rabinos mais importantes da história do judaísmo. No dia 7 de março, seguranças levantavam uma cortina de linho para bloquear o acesso à rua e barraram repórteres.

O projeto de restauração, e sua revelação discreta, expuseram um enigma com o qual a sociedade egípcia tem lidado desde que sua liderança ficou em paz com Israel há três décadas: como equilibrar as exigências do Ocidente e um processo de paz que depende que o Egito trabalhe com Israel, quando há uma antipatia pública por Israel.

Discrição

Os esforços para restaurar a sinagoga, mas mantê-la em discrição, ilustram o contorcionismo de um governo que muitas vezes tenta satisfazer ambas as demandas simultaneamente. "Este é um monumento egípcio; se não restaurarmos parte de nossa história, perdemos tudo", disse Zahi Hawass, secretário-geral do Con­selho Supremo de Antiguidades, que aprovou e supervisionou o projeto. "Adoro os judeus; eles são nossos primos! Mas quanto aos israelenses, o que eles estão fazendo contra os palestinos é loucura. Farei tudo para restaurar e preservar a sinagoga, mas comemoração não posso aceitar".

Quando o tema da restauração da sinagoga de Maimônides foi levantado pela primeira vez, há dois anos, o Egito concordou em realizar o trabalho, mas pediu que não fosse público. O projeto foi anunciado um ano depois, quando o ministro da cultura, Farouk Hosny, esperava se tornar o próximo diretor-geral da Unesco. Quando sua proposta para o cargo fracassou, muitos duvidaram de que o projeto seria finalizado.

Entretanto, o trabalho foi concluído e primeiro as autoridades disseram a membros da comunidade judaica egípcia que a mídia não seria autorizada a comparecer à cerimônia, pois queriam fazer o anúncio oficial elas próprias. Mas Hawass declarou que também cancelaria esse esquema. "Estou tentando dar aos israelenses uma mensagem, de que eles devem buscar a paz", disse Hawass.

O rabino Andrew Baker, do Comitê Judaico Americano, esperava felicitar em público autoridades egípcias pelo trabalho, quando falasse durante a cerimônia. Mas seu discurso nunca foi ouvido além das paredes da sinagoga. "É um fato triste, dado o estado atual da questão, apesar de não ser nenhuma surpresa", disse Baker, em mensagem de e-mail, depois de voltar aos Estados Unidos. "Em nossas discussões ao longo dos anos, eles temiam vozes críticas no Egito, que combina críticas do Estado de Israel com judeus egípcios e seu patrimônio. Este é um processo que se desenvolve há anos, e não será rapidamente ou facilmente revertido."

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