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Casamento

Elas não usam véu e grinalda

Sem dinheiro até para comprar alianças, noivas vêem nas cerimônias coletivas, e principalmente gratuitas, a possibilidade de realizar o sonho de casar

Paulo e Neusa aguardam ansiosos o momento de oficializar de papel passado a união de 28 anos. | Fotos: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Paulo e Neusa aguardam ansiosos o momento de oficializar de papel passado a união de 28 anos. (Foto: Fotos: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo)
Marciel, Roseli e a filha Bruna: aliança de R$ 1,99 e casamento de 14 anos. |

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Marciel, Roseli e a filha Bruna: aliança de R$ 1,99 e casamento de 14 anos.

Roseli engatou namoro com Marciel na campanha política de 1996. Ele desempregado, ela também, se conheceram no comitê de um candidato a vereador, no bairro Pinheirinho, em Curitiba. Terminadas as eleições, decidiram morar juntos. De repente, ao selar o compromisso perceberam-se com amor demais e dinheiro de menos. Passaram então no primeiro bazar popular. Trocaram alianças ali mesmo, na lojinha de R$ 1,99. Os anéis desbotaram e foram substituídos por outros de igual valor, mas foram guardados como símbolo da união que dura 14 anos e gerou Bruna Mayara, de 8. Casar de papel passado sempre foi um sonho, mas cadê dinheiro para isso?

Neusa e Paulo trocaram as primeiras impressões no ponto de ônibus na saída da fábrica onde ela trabalhava na linha de produção de persianas e ele no setor de mecânica industrial, em Santo André (SP). Estão juntos há 28 anos. Ele era separado, mas nunca conseguiu oficializar a união com Neusa porque a ex-mulher não assinava o divórcio. Há um mês, a situação se resolveu de forma no mínimo curiosa. A ex deu procuração para Neusa assinar o divórcio em nome dela. Enfim, o casal chegou perto de realizar o sonho de quase três décadas, não fosse por um detalhe: não tem sequer um tostão furado para o casamento.

Michelle conheceu Cristian num chat na internet. Depois de seis meses de bate-papo virtual, ele deu o xeque-mate: "ou nos conhecemos hoje ou não conversamos nunca mais". O primeiro encontro se deu em 6 de julho de 2005. Assistiram ao filme Guerra dos Mundos – horrível, segundo ela – e nunca mais se desgrudaram. Em seis meses já moravam juntos.

O casamento anterior de Cristian havia durado apenas um mês, o suficiente para atrapalhar o atual. O processo do divórcio custaria algo em torno de R$ 3 mil. Michelle encontrou o homem que procurava, mas o sonho de "casar direitinho" estava comprometido.

Apesar de tudo jogar contra, Neusa, Michele e Roseli finalmente vão se casar. E casar, a propósito, não só está na moda como pode ser um bom negócio para quem faz disso seu ganha-pão. As 800 mil uniões oficiais registradas por ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levam profissionais do ramo a estimar em R$ 3,7 bilhões anuais o mercado do casamento, e o valor dobra se somados os gastos com vestido, festa, noite de núpcias e viagem de lua-de-mel. Mas essas três noivas não terão nada disso. Não terão sequer véu e grinalda, que dirá festa, catedral decorada e convidados emperiquitados.

Elas moram em diferentes bairros de Curitiba e no próximo dia 22 de novembro se juntarão a outras 250 noivas da capital e da região metropolitana numa cerimônia coletiva onde só entra casal que ganha menos de três salários mínimos por mês. Não é bem o casamento dos sonhos, mas é o único possível. O padrinho será um parente ou amigo, mas bem poderia ser o estado, já que foi graças a um programa do governo, o Paraná em Ação, que esses casais conseguirão oficializar a união depois de tanto tempo juntos. As noivas vão receber até maquiagem e escova no cabelo dos parceiros do governo na iniciativa (leia mais nesta página).

Sonho

As donas de casa Neusa Souza dos Santos, de 54 anos, Michelle Dalcomuni de Macedo, de 31, e Roseli de Fátima Schadeck dos Santos, de 30, vão desposar, respectivamente, o aposentado Paulo Rodrigues Trindade, 60 anos, o auxiliar administrativo Cristian Stival, de 33, e o operador de prensa Marciel Pinheiro da Costa, de 43. Elas não vão apenas ter a união oficializada, vão poder realizar sonhos que, para elas, só são possíveis com o casamento. Neusa poderá ficar quites com os valores morais com os quais cresceu e foi educada. "Agora sim posso servir de exemplo para meus filhos e meus netos", diz.

"Há 28 anos luto para ter minha situação regularizada e assim poder participar das atividades sociais e religiosas dignamente", completa Neusa. Paulo adianta que não terá dinheiro para alianças. "O que importa mesmo é o documento", ressalta. O casal ainda paga as prestações do terreno onde ergueu a casa, no bairro Sítio Cercado. Ao serem avisados por um amigo sobre o Programa Paraná em Ação, correram para fazer a inscrição.

Michelle, por sua vez, diz que se sentirá mais segura para ter o filho tão desejado. "Com o governo ajudando, facilita para a gente fazer tudo certinho", diz. E a ajuda é costumeira. Cristian conseguiu o divórcio de graça no Paraná em Ação do ano passado e agora eles vão casar de graça na edição deste ano do programa.

Presente

Já Roseli tem um motivo a mais para comemorar. O casamento será no dia em que completará 31 anos. Marciel ouviu a chamada do programa na televisão e se apressou em fazer a inscrição. Quando soube que a cerimônia seria no dia 22 de novembro, Roseli não coube em si de tanta alegria. O primeiro par de alianças teve de ser substituído por outro, tão barato quanto, porque eles engordaram um tantinho, o que voltaria a acontecer. Agora, se derem a sorte de encontrar um padrinho que os presenteie com novas alianças, será Bruna Mayara quem irá colocá-las no dedo dos pais.

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