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Sociedade

Elas são, mesmo, as donas da casa

Pesquisa revela que o número de mulheres chefiando os lares brasileiros cresceu 317% em 13 anos

Confira o crescimento da proporção de famílias com chefia feminina |
Confira o crescimento da proporção de famílias com chefia feminina (Foto: )

O número de famílias formadas por casais com filhos chefiadas por mulheres cresceu mais de quatro vezes em 13 anos no Brasil. Este é o resultado parcial de um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 1993 eram apenas 3,4% e em 2006 este porcentual havia subido para 14,2%, equivalente a 2.235.233 lares. Os dados fazem parte da 3ª edição da pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, elaborado pelo Ipea em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher e Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O estudo mostra também que a proporção de famílias chefiadas por mulheres passou de 19,7% em 1993 para 28,8% em 2006.

Os pesquisadores do Ipea cruzaram dados de 1993 a 2006 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O conceito de chefia de família utilizado pelos estudiosos não está necessariamente relacionado somente à renda, mas também a quem mais cuida da família ou possui maior autoridade dentro de casa. Para o censo de 2010, o IBGE planeja incluir uma pergunta questionando o que o pesquisado entende por chefia.

A pesquisadora Natália Fontoura, uma das responsáveis pelo estudo, afirma que o aumento do número de famílias compostas pelo casal e filhos comandadas por mulheres representa o início de uma transformação na sociedade. "O crescimento foi muito grande e em um curto espaço de tempo". Ela afirma que a cultura da chefia está associada ao homem e se tinha a impressão de que os núcleos dirigidos por mulheres se deviam à falta do companheiro, como nos casos de divórcio. "Mas o estudo mostrou que alguém da família reconhece a chefia da mulher, mesmo com a presença masculina", explica.

Gláucia dos Santos Marcondes, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acredita que mudanças ocorridas na sociedade brasileira, como a maior participação feminina no mercado de trabalho, foram importantes para uma reorganização da estrutura familiar. "Há também uma mudança na questão do gênero, as mulheres passaram a ajudar mais na manutenção de suas famílias". Contudo, ela lembra que ainda não se pode considerar um grande avanço, por não ser possível medir a igualdade entre os casais. "As mulheres ainda se queixam que os homens não cuidam dos filhos o quanto elas gostariam e eles também reclamam que elas se dedicam demais e esquecem do casamento."

Para Natália Fontoura, esses dados mostram que é possível haver uma maior igualdade entre homens e mulheres em casa. "Temos que acreditar que a desigualdade pode diminuir. Mas ainda estamos em passos lentos". A pesquisadora acredita que apesar de significativa, a evolução para a divisão de tarefas dentro de casa ainda não é suficiente e que são necessárias mais políticas públicas para a área. "Senão, vamos ter uma sociedade igualitária daqui a séculos."

Maria Coleta de Oliveira, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp, faz algumas ressalvas. "Apesar de terem sido consideradas chefes de família, a igualdade entre os sexos está muito distante", diz. Ela afirma que mesmo com esses dados é difícil chegar ao conceito de chefia. "É complicado afirmar de uma forma geral que a situação da mulher melhorou, pois não se sabe o que motivou esta resposta. A mulher pode se considerar a pessoa de referência, porque cuida da casa, e o homem por ter renda, por exemplo".

Em relação ao aumento proporcional de famílias comandadas por mulheres, Maria Coleta diz que é uma tendência no país observada nas últimas décadas, relacionada ao crescimento do número de divórcios. Ela acredita que muitas mulheres optam por ficar sozinhas, mas também têm mais dificuldades de encontrar novos companheiros. "Dependendo da idade, a situação feminina é mais complicada. Elas procuram parceiros mais maduros e do outro lado há uma procura por pessoas mais jovens". Em 1993, o Sul do país estava abaixo da média nacional: somente 16% de mulheres chefiavam a família contra 19% no Brasil. Hoje, o Sul está dois pontos porcentuais abaixo da média. A região com maior número de mulheres no comando familiar é a Sudeste, com quase 30%.

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