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Diretor sindical e locutor, Coelho planeja ganhar R$ 8 mil com o traje natalino | Ivan Amorin / Gazeta Maringá
Diretor sindical e locutor, Coelho planeja ganhar R$ 8 mil com o traje natalino| Foto: Ivan Amorin / Gazeta Maringá

O Papai Noel que acabou com minha a fantasia

O Natal de 1996 se aproximava rápido. Tinha 8 anos e ainda me lembro muito bem. Foi o último que passamos com meu bisavô. Na noite da ceia, a família estava reunida e os presentes todos arrumados, em volta da brilhante e atraente árvore natalina. Estavam amontoados. Pareciam incontáveis.

A festa ficou completa quando um dos tios bradou: "O Papai Noel chegou!" Meu coração até disparou. Só havia o encontrado poucas vezes, em shoppings e lojas. Tinha muito a agradecer porque sempre atendia aos meus pedidos.

Os meus olhos se arregalaram quando a maçaneta da porta se abriu. Era o reencontro com ele. Aos poucos a luva branca, tão característica, foi aparecendo. Aquele vermelho brilhante do traje iluminava a sala. A bota, preta, parecia até ter sinais de neve. Tudo perfeito até o bom velhinho aparecer por completo. Magro e com uma máscara, aquelas de R$ 1,99, logo pensei que algo estranho estava acontecendo.

Pois bem, mostrando maturidade, resolvi não perguntar nada aos meus pais. Ele estava diferente, sim, mas ainda era bonzinho, dava risada e entrega vários presentes. Resolvi aceitar o Noel daquele jeito. Pra quê! Passaram horas e ele foi para o fundo da casa. Não sabia o motivo, mas não deixaram as crianças irem junto.

Mais espertos, meus primos mais velhos, Filipe e Lucas, logo tiveram um plano. Iríamos para o andar de cima da casa, bisbilhotar o Noel da sacada da parte de trás. A prima mais nova, Lívia, foi junto. Dito e feito. Fomos rápido, sem que ninguém nos notasse subindo as escadas.

Chegando lá, senti um imbróglio no estômago. A máscara do Noel e o gorro estavam jogados em um canto. Com um rosto nada parecido com o do bom velhinho, um homem comum segurava um copo de cerveja e gargalhava usando roupas vermelhas, que nem brilhavam mais.

O falso Noel olhou para cima e viu as crianças debruçadas na sacada. Rápido, tentou virar o copo com bebida alcoólica para escondê-lo dos pequenos. Foi tão veloz que o líquido caiu no chão e escorreu pela canaleta, levando consigo os meus últimos momentos da maravilhosa magia do Natal. (William Kayser)

  • Cláudio Coelho, 45 anos, durante a chegada em 11 de novembro
  • José Barbosa de Souza, 68 anos, o Bisavô Noel
  • Alcides Tufureti, 62 anos, o Noel Voador

Tirem as crianças da frente do computador. O assunto tratado agora será revelador. Acredite, o Papai Noel não trabalha só final do ano. O bom salário entre R$ 3 mil a R$ 8 mil por aparições em shoppings, eventos e casas não impede o Bom Velhinho de arregaçar as mangas durante o ano. Profissões como pedreiro, motorista, diretor sindical e até locutor transformam a fantasia do Natal em um bico de final de ano.

Pode não parecer, mas barba, cabelos brancos e talento não são prioridades na profissão. Cláudio Coelho, 45 anos, foge a todo o estereótipo do Bom Velhinho. "Na rua ando anonimamente, sem ninguém saber quem sou", disse ele, Papai Noel do Shopping Avenida Center e diretor sindical e locutor na rotina profissional.

Mesmo sem todos os atributos de um Papai Noel, exceto a barriguinha, Coelho começou a preencher a agenda de Natal em setembro. Segundo ele, Maringá tem poucos homens que assumem o papel de maneira profissional.

"Aqui tem mercado para todo mundo que quiser", declarou ele, que pretende faturar R$ 8 mil este ano. "Isso garante minha praia em janeiro. Mas não posso negar, existe o lado afetivo. Quem coloca a roupa uma vez, nunca mais tira. Mexe com o coração", comentou, com lágrimas nos olhos.

O bico, que garantiu a praia do final dos últimos anos, começou em uma brincadeira. Em uma confraternização da empresa onde trabalha, um dos diretores teve a ideia de fantasiar um funcionário como Papai Noel. Nada de dinheiro como troca pelo serviço, apenas uma tarde livre no emprego. Na brincadeira surgiram vários convites e, no outro ano, Coelho começou a distribuir currículos com a "vasta experiência". Além do shopping, ele também faz aparições em eventos de empresas e casas.

Noel voador

Diferente de Coelho, Alcides Tufureti, de 62 anos, vai estrear este ano como o personagem natalino. Ele será o Papai Noel do Shopping Catuaí e, para deixar a brincadeira mais interessante, vai chegar de helicóptero no sábado (17), às 17 horas. "Eu já andei de avião, mas helicóptero é a minha primeira vez. Não tem como não ficar ansioso, já sinto um frio na barriga desde já", brincou.

Iniciante, Tufureti aceitou a aventura porque gosta muito de crianças. "Aceitei porque eu adoro crianças, estou sempre com os meus sobrinhos em casa", lembrou. "Não acho que será um desafio. Será um grande prazer. Isso mexe com a fantasia e inocência das crianças. Elas chegam perto da gente, conversam, fazem pedidos de presentes, querem tirar foto. É uma alegria imensa fazer esse trabalho."

Bisavô Noel

Se os dois primeiros Noeis não possuem todas as características da figura natalina, o já bisavô José Barbosa de Souza, o Zezé, de 68 anos, é confundido até nas ruas. "As pessoas ficam gritando Papai Noel quando eu passo", contou, aos risos. Foi desta forma, inclusive, que ele foi encontrado na rua por uma empresa de eventos.

A semelhança era tanta que Souza recebeu o convite enquanto andava. "A neta da dona apenas me perguntou se não interessaria ser Papai Noel", lembrou. O pedreiro, então, passou a conviver com o mundo dos pedidos. Brinquedos, notebook, bicicleta, celular e boneca não são os únicos presentes que crianças e grandões pedem. "Teve uma mulher que queria um namorado. Isso nem o milagre do Natal poderia ajudar [risos]." Ele será o personagem do Maringá Park, com chegada no domingo (18), às 18 horas, em um carro antigo.

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