
Eles têm entre 20 e 30 e poucos anos, são estilosos e costumam frequentar bares do bairro São Francisco, em Curitiba, para tomar uma cerveja gelada. As profissões variam: de contador, engenheiro mecânico, tatuador a até ex-advogado que largou a carreira para ser cozinheiro. Esse grupo nada homogêneo tem em comum o fato de todos os integrantes terem adotado a bicicleta como principal meio de transporte, mandando os carros para as cucuias. E eles não usam qualquer bike. São apaixonados pelos modelos de rodas fixas (ou "fixed gear", em inglês), que têm um sistema de rotação diferente e grande parte não é equipada com freios.
Originalmente, o modelo era usado em competições de velódromo e se popularizou nos Estados Unidos dos anos 70 com os "bike messengers", que usavam a magrela para trabalhar com entregas. A bicicleta fixa não tem sistema de roda livre na parte traseira, o que significa que sempre que a roda gira, os pedais acompanham. O modelo também não tem marcha, fazendo com que a velocidade dependa das pernas do condutor. E a freada é feita com o uso de manobras, como derrapagens e pulos. Ou seja, o ciclista não pode parar de pedalar nem mesmo em descidas, aumentando assim o risco de tombos.
Diante das características da bicicleta, o condutor precisa antever perigos. "É estilo motoboy. Tem de estar ligado em tudo", diz o proprietário do Velo Club, Alessandro Dias Jorge, que percorre quase 50 quilômetros com sua fixa diariamente. Ele abriu a loja em 2009 e conta que a bicicletaria virou ponto de encontro do grupo com cerca de 30 pessoas , que se reúnem para praguejar contra motoristas e ciclovias compartilhadas, cobiçar uma nova peça e até organizar chá de bebê para um dos fixeiros que vai ser pai.
Outro precursor da fixa, o maratonista Ivo Lucas Siebert acredita que outro fator atraente do modelo é a manutenção barata. "Ela é resistente e é possível que uma pessoa sem muito conhecimento faça reparos sozinha". Entretanto, incrementar a bicicleta se torna um vício, diz o economista Gunnar Thiessen, criador do blog "Fixa CWB". "Elas permitem uma customização pessoal, você compra as peças e tudo vai fazendo parte de um processo". Uma fixa completa varia de R$ 750 (básica, com peças mais simples) até R$ 8 mil.
Meio único
O número de pessoas que usam a bike fixa na cidade é cada vez maior. São centenas delas nas ruas e Curitiba já é uma referência nacional do movimento. Grande parte dos ciclistas trocou o carro pela bicicleta ou adotou-a como principal meio de transporte para ter liberdade. "A melhor coisa é não ter que encarar um ônibus lotado", diz o tatuador Juliano Machado, um sem- carro convicto. O cozinheiro Rodrigo Abagge Santiago resolveu vender o carro depois de cansar do estresse do trânsito. "Chego ao lugar suado, mas feliz. Ando de bicicleta porque acho legal, ela tem um aspecto lúdico. O resto dos benefícios vêm a reboque".
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Interatividade
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