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Contêineres no Porto de Santos: investigação internacional e suspeita de outros casos | Maurício Lima/AFP
Contêineres no Porto de Santos: investigação internacional e suspeita de outros casos| Foto: Maurício Lima/AFP

Materiais tóxicos disfarçados entre os recicláveis

Falhas no controle da importação de resíduos abrem espaço para a entrada de lixo tóxico no Brasil. Segundo o presidente do Instituto Brasil Ambiente, Sabetai Calderoni, consultor da ONU e do Banco Mundial, uma rede organizada opera dos países ricos para despachar ilegalmente material perigoso, como lixo hospitalar e tóxico, para o exterior.

"A destinação do lixo nos países ricos é responsabilidade do gerador e, hoje, com a lotação dos aterros e leis ambientais rígidas, ficou muito caro dar fim ao lixo tóxico. Isso impulsiona a exportação ilegal", diz. O pior: nos países receptores, onde o controle alfandegário costuma ser falho, o lixo acaba nos rios ou apodrece nos portos, como ocorre no Brasil com os mais de 20 contêineres contendo chumbo e cádmio, originários da Itália, Espanha e Estados Unidos, que apodrecem no Porto de Santos desde 2004. Parte dos contêineres com mais de 1,7 toneladas de lixo encontrados neste porto, no de Rio Grande e em uma estação alfandegária de Caxias do Sul (RS), também estavam abandonados.

São Paulo - O envio irregular de 99 contêineres de lixo do Reino Unido para os portos de Santos e Rio Grande do Sul, no Brasil, originou uma investigação internacional. Mas esse tipo de operação que parece absurda – a importação de lixo – ocorre com mais frequência do que se imagina e de forma legal.

O Brasil importou, oficialmente, 223 mil toneladas de lixo de outros países desde janeiro de 2008, a um custo de US$ 257,9 milhões. No mesmo período, o país deixou de gerar cerca de US$ 12 bilhões com a reciclagem de 78% dos resíduos sólidos gerados em solo nacional, mas desperdiçados no lixo comum – o país recicla apenas 22% do seu lixo, muito menos do que a capacidade de absorção da indústria nacional, que compra das recicladoras o material, usado como matéria-prima na fabricação de roupas, carros, embalagens, entre outros.

Mesmo importando, as 780 empresas de reciclagem brasileiras, hoje, atuam com 30% da capacidade ociosa por falta de matéria-prima, segundo dados da Plastivida Instituto Socioambiental dos Plásticos. A falha está na coleta e separação do lixo, atribuição das prefeituras, segundo a Cons­tituição. Apenas 7% dos 5.564 municípios brasileiros têm um sistema efetivo de coleta seletiva.

Mais de 40% do PET reciclado é absorvido pela indústria têxtil na fabricação de fios e fibras de poliéster – duas garrafas se transformam em uma blusa ou carpete para carro. O Brasil teria condições de fornecer todo esse PET, se não desperdiçasse 50% do material no lixo comum, por falta de coleta seletiva. Enquanto sobravam garrafas PETs boiando no poluído Rio Tietê, na capital paulista, o Brasil teve de importar 14 mil toneladas do ma­­terial no ano passado, 75% a mais do que em 2007. A carência do produto e o aumento da demanda pela indústria têxtil e automobilística fez com que o preço da tonelada disparasse no mercado nacional, equiparando-se ao valor do importado, entre R$ 700 e R$ 900. "Se existisse uma política nacional de reciclagem não era preciso Bolsa Família. O dinheiro do lixo renderia aos brasileiros o mesmo benefício, além de emprego", ironiza o presidente do Instituto Brasil Ambiente, Sabetai Cal­deroni, autor do livro Os Bilhões Perdidos no Lixo e consultor da Organização das Nações Unidas para a área ambiental.

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