
O tempo em que os clubes faziam festas e eventos sociais duas vezes ao mês e atraíam milhares de sócios procurando piscinas e lazer ficou para trás. Hoje, de acordo com o Sindicato dos Clubes do Paraná, 80% deles têm dívidas impagáveis. O Clube Cultural de Curitiba, fundado na década de 1930, chegou a ter 29 mil sócios pagantes em dia nos tempos áureos há mais de 15 anos. No final do ano passado, teve de vender uma sede no Capão Raso e ir para uma região mais afastada. Os pouco mais de 3 mil pagantes não conseguiram sustentar a estrutura com 12 piscinas e um ginásio de 3 mil metros quadrados.
Entre os dirigentes dos clubes a certeza é de que o perfil dos sócios mudou. O lançamento de condomínios com boa infraestrutura de lazer e o boom de shoppings que ocorreu nos últimos anos afastou a clientela. Os eventos sociais, como as tradicionais festas da primavera, por exemplo, também foram substituídos pelos bares e danceterias. Além disso, em Curitiba há o agravante da falta de sol. "A gente vive do verão. Os sócios só pagam quando aproveitam, mas desde setembro não tem sol", diz o presidente do Clube Urca, Ilson Polizei.
Nos últimos três anos, pelo menos cinco clubes de Curitiba tiveram que se desfazer de suas sedes principais em bairros nobres para saldar dívidas. A Sociedade União Juventus tinha uma dívida de R$ 15 milhões e teve de fazer uma permuta com a prefeitura de Curitiba. Trocou o terreno da sede no Batel por um no Ecoville, além de saldar o débito. O clube tem hoje cerca de 3 mil sócios, mas só pouco mais de 300 pagantes, contra 4 mil no passado. Foi criado por imigrantes poloneses que queriam manter viva a cultura de seu povo.
Com 111 anos de existência, o Juventus depende hoje que os sócios paguem as mensalidades em dia para não contrair dívidas novamente. Marian Kurzac, presidente, diz que eles conseguiram dar a volta por cima. "Os clubes precisam mudar seu modo de pensar. Têm de ser administrados como uma empresa, mesmo não tendo fins lucrativos".
O Clube Urca também se desfez de sua sede social e em 2007 entregou parte do novo parque aquático aos sócios. Uma permuta foi feita com uma construtora em troca de investimentos na sede campestre. O Urca tem hoje 1,3 mil sócios e a inadimplência é grande. A média era de 4 mil pagantes. "Estamos fazendo mágica. Nossos investimentos dependem desta época do ano", diz Polizei. A diretoria quer retomar as festas e tentar atrair os jovens. "Ficou uma lacuna. A criança vem com os pais no clube até chegar na adolescência. Depois não há mais estímulo para essa faixa etária". Apesar das dificuldades, Polizei diz que o Urca não tem dívidas com o INSS e nem com o FGTS, somente pequenas débitos, frutos da falta de verão.
Os clubes 21 de Abril e Santa Mônica Clube de Praia também venderam parte de seu patrimônio. O 21 de Abril tinha uma sede na BR-277 próximo ao Parque Barigui e foi para um espaço em Almirante Tamandaré. Foi fundado em 1927 por imigrantes italianos. No início era uma sociedade beneficente: além de confraternizações, o grupo também fornecia auxílio financeiro e funerário aos associados.
A primeira sede no bairro Champagnat foi permutada pelo terreno na 277 quando os primeiros prédios começaram a ser erguidos na região. Hoje, o clube tem sua fonte de renda vinda de eventos para grupos fechados, como empresas e igrejas, além do ingresso para passar o dia. São 300 sócios pagantes, de um total de 500. Quem administra o local é Eliane Foltran, neta de um dos fundadores. "Migramos para o turismo rural buscando criar um novo nicho de mercado"diz. A sede de praia do Santa Mônica Clube de Praia foi leiloada para pagar dívidas trabalhistas.
A crise não atinge somente os pequenos. Dois dos maiores clubes do país, o Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, e o Minas Tênis Clube, em Minas Gerais, têm dificuldade para manter os atletas que praticam esportes olímpicos. Os dirigentes criaram o Conselho de Clubes Formadores de Atletas Olímpicos (Confao) para tentar angariar verbas com o governo federal.
A saída encontrada pelos presidentes, diretores e administradores é diversificar as atividades e atrair eventos externos. "Se sai melhor quem tem salões para alugar a festas de casamento e formaturas, por exemplo", diz Paulo Roberto Colnaghi Ribeiro, presidente do Sindicato dos Clubes do Paraná. O Clube Urca quer retomar as festas que eram o ponto alto da comunidade e atrair os jovens. O Juventus e o Clube Cultural planejam ações para trazer mais sócios e o 21 de Abril investe no turismo sustentável. "Mesmo com todas as opções de lazer que existentem hoje, os clubes ainda são a melhor alternativa porque oferecem segurança e lazer para toda a família" afirma Ribeiro.
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Interatividade
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