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Sem coveiro

Em cidade do interior, é “proibido” morrer no fim de semana

Lagoinha, SP - Os cidadãos de Lagoinha, pequena cidade do interior de São Paulo, que morrerem aos fins de semana terão que esperar até a segunda-feira para serem enterrados. Em comunicado oficial, a prefeitura proibiu, desde 21 de agosto, que o único coveiro da cidade, Francisco de Assis Soares, faça horas extras e trabalhe aos sábados, domingos e feriados.

"Estão suspensos os plantões aos fins de semana no cemitério devido ao baixo índice de mortalidade em nosso município. Desobrigando vossa senhoria de permanecer à disposição dessa municipalidade aos finais de semana", diz o comunicado assinado pelo encarregado do departamento pessoal da prefeitura, Valter Luiz Ribeiro.

Revolta

A medida provocou revolta no coveiro, que há quase três anos trabalha no cemitério, e na população de cerca de 6 mil habitantes, que agora passou a "ter medo de morrer aos fins de semana".

De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos do município, a prefeitura suspendeu os plantões do coveiro e do assistente dele para não pagar horas extras. Indignado, o coveiro, que é concursado e ganha um salário mínimo, fez um levantamento e constatou que as mortes ocorrem também aos sábados e domingos. "Não tem como prever isso. E se alguém morrer, como fazemos? Não é qualquer um que pode enterrar. Prestei concurso pra isso, tem técnica, não é assim que funciona", desabafou Soares. Ontem, o coveiro estava triste porque havia perdido dois primos em um acidente na estrada entre Lagoinha e São Luiz do Paraitinga. "E se hoje fosse sábado, como ia fazer? Isso não pode continuar assim, estou revoltado".

Segundo Daniel Ramos, presidente do sindicato, a falta de pagamento de horas extras por parte da administração municipal obrigou a entidade a mover uma ação contra a prefeitura e a Justiça do Trabalho obrigou a prefeitura a fazer o pagamento. "Foi depois disso que eles mandaram o comunicado. Um absurdo."

O prefeito José Galvão da Rocha confirmou a ordem, mas negou ter impedido que as pessoas morram aos fins de semana. "Posso garantir que se houver alguma morte, as pessoas serão enterradas e que, se for preciso, até eu faço o enterro", comentou.

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