
O Laboratório de Estudos da Cidade Antiga (Labeca) do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP) lançou recentemente dois DVDs que reúnem informações sobre Siracusa, cidade de origem grega situada na ilha italiana da Sicília.
O primeiro DVD traz filmagens e fotografias da cidade, feitas em campo por pesquisadores do laboratório. Segundo a professora do MAE Maria Beatriz Florenzano, que coordena o Labeca, o acervo do laboratório é composto por 17 horas de filmagens e cerca de 4 mil fotografias feitas em campo, além de grande quantidade de textos. "Siracusa foi fundada no século 8.º antes de Cristo, passou pelos gregos, romanos, normandos, bizantinos e hoje vive em torno dessas memórias", diz.
O Labeca se dedica ao estudo do ambiente construído nas cidades gregas dos períodos arcaico, clássico e helenístico, entre os séculos 8.º e 2.º antes de Cristo. "Um teatro grego existe até hoje na cidade e foi incorporado à cultura contemporânea, com a apresentação de danças e shows, entre outras manifestações", afirma a pesquisadora.
Há ainda um choque de interesses entre a necessidade de sobrevivência e a preservação do patrimônio. "Conhecemos em Siracusa uma senhora que planta uvas para a produção de vinho na região, e em algumas ocasiões ela passava o arado na plantação e esbarrava em objetos bizantinos ou romanos", descreve.
O segundo DVD reúne trechos longos de uma peça encenada no teatro da cidade. Também são reproduzidas imagens de outros teatros da Grécia, de forma a posicioná-los como atividades culturais e religiosas da Grécia Antiga.
Estudos
Desde que foi oficialmente criado, em 2006, o Labeca passou a ser uma fonte de pesquisa para especialistas da área e professores de faculdades, de cursos preparatórios e dos ensinos médio e fundamental. Segundo Maria Beatriz, a ida de parte dos pesquisadores à Grécia e a regiões da Itália que na Antiguidade estavam sob domínio grego ajudou no desenvolvimento dos estudos e até serviu para questionar algumas teorias e mitos enfatizados atualmente. "Os textos mais antigos, por exemplo, mostram uma mulher sem espaço na sociedade grega. Acreditavam que somente o homem era cidadão, porque tinha o poder do voto", comenta a professora. Os pesquisadores, entretanto, perceberam a importância que o sexo feminino tinha no controle da casa por causa da maneira como a imagem delas aparece nos cemitérios.
De acordo com a professora, a intenção do Labeca é mostrar que a contribuição da sociedade grega para o mundo vai além da visão política, tão enfatizada nos livros de História. "O espaço dirigido aos escravos também nos trouxe algumas conclusões: em Atenas, vimos que eles exerciam algumas posições de comando", exemplifica.
As linhas de pesquisas que norteiam o trabalho dos 32 pesquisadores, professores, estudantes e técnicos vão desde a formação da pólis (cidade antiga), passam pela religião, economia, identidade, até o planejamento urbano.
Serviço
Parte do acervo do laboratório está digitalizado no site www.mae.usp.br/labeca



