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A vida por um fio

Em um ano, 1.028 pessoas morreram à espera de UTI

A cada dia, três pessoas morrem na lista de espera por uma vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Paraná. De outubro de 2004 a outubro deste ano, 1.028 pacientes não resistiram depois de horas ou até mesmo dias aguardando internação na estrutura hospitalar que poderia prolongar sua vida. Os dados a que a Gazeta do Povo teve acesso são contabilizados pela própria Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Nos últimos 12 meses, a secretaria reconheceu três mortes por falta de vaga em UTI, após os casos terem sido publicados pela imprensa: uma mulher em Londrina, um bebê em Ponta Grossa e um homem em Paranavaí. No relatório interno, no entanto, os casos foram bem mais freqüentes.

O problema não se resume às UTIs. O relatório da secretaria também aponta mortes ocorridas em corredores e enfermarias de hospitais e postos de saúde. Morreram 419 pessoas à espera de atendimento especializado, como, por exemplo, tratamento de hemodiálise. Somado, o número de doentes que morrem à espera de tratamento nos hospitais chega a 1.447 – o equivalente a metade das mortes no trânsito em um ano no Paraná.

O levantamento mais recente mostra que ocorrem 60 mil óbitos por ano no estado. Os casos de falta de atendimento representam 2,4% do total. A estatística oficial não inclui os óbitos registrados depois de prestado o atendimento. Não é possível, portanto, saber se as vítimas teriam sobrevivido caso tivessem acesso à estrutura adequada do serviço público de saúde. A ausência de leitos de UTI cria a dúvida, ao mesmo tempo em que eliminou qualquer esperança.

Levantamento

Um documento obtido pela Gazeta, o "Relatório de Óbitos sem Reserva de UTI", mostra de modo específico e detalhado os casos de cancelamento de pedidos de leito para tratamento intensivo na Região dos Campos Gerais. Pelo levantamento, é possível avaliar a situação dos pacientes que morreram na lista de espera. O relatório mostra o falecimento de 103 adultos e 33 crianças entre de julho de 2004 e agosto de 2005. São pessoas de 23 cidades. Em 11,7% dos casos a morte ocorreu em menos de uma hora entre a solicitação da vaga e o cancelamento do pedido de leito.

Em 62 registros, o tempo transcorrido entre o pedido de UTI e a morte do paciente (sem que ele tivesse sido internado na terapia intensiva) é superior a 12 horas. Vinte e nove pessoas agonizaram por mais de 24 horas, até morrer. Na média, o tempo de espera para os enfermos adultos é de 21 horas. O triste recorde ficou com um homem de 65 anos de Imbituva: oito dias entre o pedido da vaga e sua morte, longe da UTI. A média de idade das vítimas da fila é de 60 anos. Nos extremos, há registros de solicitantes com 91 anos e jovens de 19 anos.

Obter uma vaga na UTI não é garantia de que o paciente irá sobreviver. Como são casos graves, parte deles acabaria morrendo mesmo com o tratamento adequado. O tempo de espera prolongado, entretanto, pode complicar a recuperação, mas as seqüelas causadas pela demora não aparecem nas estatísticas. Há também casos de pedidos que são suspensos porque o paciente melhora.

Das 28.247 solicitações de vaga de UTI que chegaram à Central de Leitos do Paraná, 2.255 foram canceladas antes de se efetivarem. Nem só a recuperação dos pacientes explica esse número. Muitas famílias migram para tratamentos particulares – e bancam os custos – quanto vêem que a situação é crítica.

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