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O empresário francês José Fernandes Madeira Martins, 75 anos, negou qualquer envolvimento no desaparecimento da estudante paranaense Carla Vicentini, 23 anos. Fernandes é o dono do apartamento onde Carla ficou hospedada antes de desaparecer no dia 09 de fevereiro na cidade de Newark, no estado americano de New Jersey.

Durante pouco mais de duas horas do depoimento prestado no início da manhã desta quinta-feira à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Emigração Ilegal, em Brasília, Fernandes, que foi convocado como testemunha do caso, se ateve a repetir que não tem nenhuma informação sobre o paradeiro de Carla.

Um trecho, porém, de seu depoimento chamou a atenção de Tânia Vicentini, mãe da estudante, que assistiu à oitiva pelo computador. O empresário contou que por volta de 3h, horário em que a polícia americana acredita que Carla chegou no apartamento, ele ouviu alguém entrando. "Eu ouvi um barulho. Ouvi alguém subindo as escadas e depois descendo", disse Fernandes.

"Esquisito que no início das investigações ele teria dito que estava dormindo quando a Carla chegou no apartamento e que não tinha ouvido nada e não sabia de nada. Depois ele disse que ouviu passos, mas não sabia se era do apartamento de cima ou de baixo", recapitula Tânia. "E agora ele disse que ouviu alguém subindo e descendo as escadas? Muito estranho", desconfia.

A descrição detalhada do "ouvir alguém subir e descer as escadas" também foi motivo de estranheza para o agente do FBI, Daniel Clegg. De acordo com a entrevista dada pelo empresário ao agente, em Goioerê, Fernandes teria contado que ouviu passos, mas não sabia se era no apartamento de cima ou de baixo.

A versão de Fernandes sugere que Carla teria então entrado no apartamento, deixado o casaco que ela foi vista saindo do Adega Bar e saído novamente, tendo sumido dentro ou já fora do prédio. Para Tânia, a versão "não bate". "Não acredito nisso, até porque naquela madrugada (09/02) nevava muito em Newark, e todos os casacos que minha filha levou foram encontrados no apartamento pelo FBI", conta. "Não acredito que ela, num dia de neve, ia sair sem casaco, sem bolsa, dinheiro e documentos", explica Tânia, citando os outros pertences da estudante encontrados dentro do apartamento.

Ligações suspeitas

Essa, para Tânia, foi a principal contradição do depoimento do Fernandes. Outro fato, porém, provocou revolta, tanto de alguns parlamentares, quanto de Tânia. Em certa altura do depoimento, o empresário contou que um dia após o sumiço de Carla, ele recebeu de três a cinco chamadas no celular, e que ao fundo ouvia uma mulher gritando por socorro. "Só pode ter sido a Carla", desespera-se a mãe da estudante. "Porque ele não procurou a polícia e contou isso no mesmo dia", questiona. O deputado federal do Paraná, Hermes Parcianello (PMDB), que tem acompanhado o caso, chegou a inquirir o depoente, que respondeu dizendo que não sabia o porque e que não achou importante naquele momento avisar às autoridades.

"Eu supliquei para ele (Fernandes) ir falar com a polícia. Ele só não falou com a polícia, como no início da investigação se recusou a dar o celular para a polícia dos EUA", diz Tânia. Por telefone, Clegg disse à reportagem que o sigilo telefônico deste celular foi quebrado e que a polícia está investigando todas as ligações feitas no dia do desaparecimento, e que até esta quinta-feira nenhuma pista foi encontrada.

Suspeitos

No depoimento, Fernandes recomendou aos parlamentares da CPMI que investigasse dois rapazes que teriam acompanhado Carla quando a estudante chegou em Newark. "Ela veio com dois caras. Um deles trazia a mala dela", disse o empresário. Os dois caras citados por Fernandes, são, segundo Tânia, conhecidos da Carla e de forma alguma podem ser considerados suspeitos. "Imagina. O Alan (um dos rapazes) me liga sempre perguntado sobre a Carla. Ela conheceu ele numa viagem de trem, de Dover para Newark. E o outro rapaz (sem lembrar do nome) trabalhava com ela".

A suspeita parece não ter fundamento. Por telefone Clegg disse à reportagem que os dois rapazes, brasileiros e intercambistas, como Carla e Maria Eduarda Ribeiro (a Duda), já foram entrevistados pela polícia americana e não são considerados suspeitos.

Fernandes recomendou ainda que a CPMI investigasse as pessoas que conseguiram o trabalho em Newark para Carla e para Duda, que dividia o apartamento do empresário com a Carla. A reação de Tânia ao ouviu o "pedido" foi irônica. "Meu Deus. Quem conseguiu o trabalho da Carla no bar Mediterrâneo foi o próprio neto dele. A Carla me contou isso por telefone", disse.

Conclusão

Do depoimento de Fernandes, os parlamentares saíram com uma conclusão: "uma acareação entre o empresário e a Duda será necessária para tirar algumas dúvidas que ainda não foram bem esclarecidas", disse Parcianello. Justificando que a Duda e o Fernandes foram as duas pessoas que mais tiveram contato com a Carla durante sua estada em Newark. "Queremos ouvi-los como testemunhas. Para ajudarem no caso. Não como suspeitos", completou o parlamentar.

A secretaria da CPMI informou à reportagem que a convocação de Duda ainda não foi feita porque a estudante de Brasília está na Califórnia, nos Estados Unidos. A comissão estuda a possibilidade de esperar até o próximo dia 18, dia que vence o visto de Duda e data que ela deve retornar ao Brasil, para ouvi-la e aí em seguida fazer a acareação.

Por telefone, a reportagem entrou em contato com Fernandes e com o advogado dele, Juarez Paulo da Silva. O empresário, ainda em Brasília, disse que não queria mais falar sobre o caso, e o advogado se recusou a conversar.

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