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Erosão ameaça praias de Santos e Ministério público intervém

Para o MPF, a causa da erosão está nas obras de alargamento do canal do Porto de Santos

As praias que tornaram Santos um dos principais destinos turísticos do Estado de São Paulo estão ameaçadas pela erosão. A força das ondas e das marés estão encurtando as faixas de areia de praias tradicionais, como Embaré e Ponta da Praia. Uma ressaca com ondas violentas baixou em 50 centímetros a camada de areia em alguns pontos da Praia da Aparecida. Tubulações de água, fiação elétrica e raízes de árvores ficaram expostas e muretas foram derrubadas. O farol da Marinha que aponta a entrada para os navios teve a fundação exposta.

O fenômeno levou o Ministério Público Federal (MPF) a propor ação civil pública contra a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Para o MPF, a causa da erosão está nas obras de alargamento do canal do Porto de Santos. As dragagens, iniciadas em 2010, tornaram o canal mais profundo, causando a entrada de correntes e ondas maiores e mais velozes pelo canal de navegação, com impacto direto nas praias. “Já são percebidos pela população o aumento nos danos nas praias do Embaré, Aparecida e na Ponta da Praia”, afirmou o procurador Antonio José Molina Daloia, do MPF em Santos.

A ação se baseia no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela Codesp e em pareceres do Ibama, além de estudos feitos por analistas e peritos do MPF. De acordo com o procurador, é necessário adequar a largura máxima de entrada do canal de 220 para 170 metros, a fim de diminuir a velocidade das correntes e a força das ondas. “Os estudos mostram que essa adequação não prejudica o fluxo de navios”, disse. O MPF também quer obrigar a Codesp a restringir a dragagem e manter um programa de monitoramento das praias. À Justiça Federal, pede que o Ibama seja proibido de conceder novas licenças para dragagens no canal.

Avenida

A Codesp informou que já foi notificada da ação e vai apresentar defesa dentro do prazo. Segundo a companhia, no licenciamento ambiental da dragagem foram indicadas medidas preventivas, entre elas o monitoramento do perfil das praias que vem sendo realizado desde 2010. Ainda segundo a Codesp, estudos feitos para apurar o processo erosivo indicam que o fato ocorre há pelo menos seis décadas e não tem relação com as obras de dragagem.

De acordo com esse estudo, o fenômeno estaria associado às intervenções do homem na orla, destacando-se a construção da avenida à beira-mar sobre a própria praia, a destruição de dunas e manguezais e a construção de estruturas de lazer, pesca e apoio náutico. “Observou-se que durante os últimos 50 anos toda a extremidade leste da Praia de Santos vem sofrendo notório retrogradação (a praia está recuando sentido terra), processo evidenciado pela erosão frontal e lateral da praia rumo a oeste”, diz em nota.

Especialistas divergem sobre a causa da erosão. Para o oceanógrafo André Luiz Belém, autor de um estudo sobre os riscos do aprofundamento no canal de navegação, quanto mais fundo ele estiver, mais intensas as ondas chegarão à praia. Já a pesquisadora Mariângela Oliveira de Barros, especialista em erosão costeira e marinha, atribui o fenômeno às mudanças climáticas, agravada pelo fato da orla santista estar ao fundo de uma baía aberta para o sul, de onde chegam as tempestades.

Preocupado com a perda das praias, o grupo Clube da Ponta Futebol de Praia colheu três mil adesões em abaixo-assinado cobrando providências das autoridades. “Se nada for feito em dois anos um trecho da Ponta da Praia vai desaparecer”, disse o engenheiro Élio Lopes, integrante do grupo. O Ibama informou que ainda não foi notificado sobre a ação.

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