Quem se dispuser a percorrer os 900 quilômetros de extensão do Rio Iguaçu, da região metropolitana de Curitiba ao Oeste do estado, pode imaginar que ele está relativamente preservado. Grande parte de suas margens está coberta por matas. Mas isso é só aparência. Essa floresta ciliar está empobrecida do ponto de vista biológico. E, logo atrás dela, o Vale do Iguaçu passa por um processo de exploração agropecuária que dá sinais de insustentabilidade ambiental. Devido a um processo erosivo, o solo da região está se tornando mais arenoso e, portanto, menos fértil.
As constatações a respeito das condições ambientais do Vale do Iguaçu são do agrônomo Gustavo Ribas Curcio, pesquisador da Embrapa Florestas. Ele se dispôs a percorrer todo o rio, das nascentes à foz. E não fez isso uma única vez: foram quatro, entre os anos de 2003 e 2005. Durante as expedições, Curcio mapeou a vegetação do vale, estudou a composição dos solos e viu muitas agressões ao meio ambiente. O resultado da pesquisa foi uma tese de doutorado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com 500 páginas, concluída há três meses. Mas, mais do que isso, o estudo é um alerta sobre o futuro do principal rio do Paraná.
A pesquisa de Curcio conclui que há apenas três trechos ainda bem preservados: uma grande extensão do rio quando ele passa pelo Parque Nacional do Iguaçu e outros dois pontos, pequenos, em União da Vitória. Ao longo dos reservatórios das usinas hidrelétricas, destaca o pesquisador, a vegetação também vem sendo reconstituída. Mas a avaliação geral é de que o ambiente do rio está muito degradado.
Uma das principais constatações da pesquisa é de que o solo está ficando mais arenoso na maior parte do vale. Segundo Curcio, devido à ausência de vegetação nas encostas ocorre um processo erosivo quando chove (veja infográfico). A enxurrada, diz ele, carrega a terra em direção ao rio.
O que acaba sobrando e sedimentando no solo é a areia, fração maior do solo. Os outros componentes argila, silte (pequena fração mineral) e matéria orgânica são menores e tendem a ser levados para o rio mais facilmente do que a areia. Como a areia é um material que não dá coesão, inicia-se um ciclo perverso de erosão, pois na nova enxurrada a tendência é de que mais areia se acumule. "É uma bola de neve", afirma o pesquisador. Outro problema é que os elementos que dão a fertilidade ao solo são a argila e a matéria orgânica. "Sem eles, você descapitaliza o agricultor", afirma Curcio.
A falta de vegetação nativa no vale também tem relação direta com a qualidade da água do rio, diz Curcio. As matas, por exemplo, ajudam a barrar a entrada de agrotóxico e lixo no rio. Além disso, a planície do rio, área inundável, primitivamente coberta por uma vegetação de campo, foi ocupada por atividades agropecuárias. Segundo o agrônomo, é justamente o campo natural que ajuda a filtrar a água da chuva infiltrada no solo, garantindo mais qualidade hídrica ao rio. Para que haja uma melhoria da qualidade ambiental do Vale do Iguaçu, diz o agrônomo, é preciso rever as práticas agropecuárias e outros usos inadequados do solo.



