
Na manhã desse domingo (22), o Largo da Ordem, em Curitiba, rescendia a flores. Era a lavação das escadarias da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, ritual realizado por devotos do candomblé para celebrar a Festa do Rosário, o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, e o encerramento da Semana da Consciência Negra. A lavação representa a purificação.
Antes, um culto inter-religioso celebrou o respeito a todas as religiões e crenças e pediu mais tolerância e igualdade não apenas entre as crenças, mas principalmente entre os povos. Depois do culto e da lavação das escadarias, um cortejo percorreu a rua 13 de Maio (dia em que a Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil, foi assinada, em 1888) até o Pelourinho de Curitiba.
Batuques de saberes
Zelador Cultural Candiero, do Centro Cultural Humaita, explicou que a lavação das escadarias da Igreja e o cortejo são um resgate da história da população negra de Curitiba. Antigamente, o Largo da Ordem era uma espécie de reduto dessa cultura – havia batuques e congadas que, em nome de um processo de “revitalização”, deixaram de ser realizadas no local.
“A religião foi a primeira forma de organização social do nosso povo e foi também a primeira coisa que nos tiraram. Quando tomamos a rua, buscamos memórias, desenterramos nossos ancestrais, muitos enterrados embaixo da Praça Tiradentes. Esses batuques estão impregnados de saberes”, disse.
Durante a celebração, devotos lavaram as escadarias da Igreja do Rosário com água, flores e ramagens, enquanto entoavam canções e saudações aos Orixás. Pessoas que assistiam foram convidadas a participar da lavação e o batuque rapidamente contagiou centenas de pessoas que acompanhavam o ritual.
Consciência negra
A lavação das escadarias da Igreja do Rosário encerrou a semana da Consciência Negra, marcada pela polêmica do embargo do feriado municipal da Consciência Negra. Para Zelador Cultural Candiero, a ação movida pela Associação Comercial do Paraná (ACP) que resultou na decisão pela inconstitucionalidade da lei é reveladora de um racismo institucional e estrutural.

















