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Francisco ataca "ideologização" da Igreja

Um ataque ao abuso de poder na Igreja, à mentalidade de "príncipes" entre os cardeais, à inclusão de ideologias sociais no Evangelho – tanto marxista como liberal – e uma denúncia frontal contra o carreirismo e contra a distância imposta pelos bispos aos fiéis. Em um duro e longo discurso, considerado o principal de seu pontificado até agora, no encontro com o Comitê de Coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), no Rio, o papa Francisco apelou por uma Igreja "atual" e apresentou um raio X dos problemas da Igreja que, segundo ele, estão impedindo seu crescimento e fazendo proliferar sua "imaturidade".

Sem meias-palavras, Fran­cisco alerta: a Igreja está "atrasada" e mantém "estruturas caducas". Para ele, chegou o momento de a Igreja entender que precisa se modernizar e deixar de viver de tradições ou apenas de vender esperanças para o futuro. Porém, alertou justamente para vícios e tentações que a instituição atravessa e que precisa abandonar para poder retomar sua credibilidade.

Uma delas seria a "ideologização da mensagem evangélica", numa primeira referência direta contra tendências que ganharam força na América Latina nos anos 70 e que foram combatidas pelo Vaticano com dureza. "Essa é uma tentação que se verificou na Igreja desde o início e, em alguns momentos, foi muito forte", disse.

Príncipes

A superação dessa crise, segundo o papa, exigirá bispos com novas atitudes. Para ele, são pessoas que devem "guiar", não comandar. "O perfil do bispo deve ser de pastores, próximos das pessoas, homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida."

Homens que não tenham ‘psicologia de príncipes’", disse, numa referência aos termos que são usados em Roma para descrever os cardeais. "Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra", insistiu.

Com uma defesa do casamento tradicional, da família e do sacerdócio, o papa Francisco se despediu dos voluntários que trabalharam na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em encontro no Riocentro, na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. Em discurso focado em temas comportamentais e não políticos e sociais, diferentemente de outros de seus pronunciamentos na JMJ, o pontífice exortou os jovens a "ir contra a corrente" e a serem "revolucionários" em suas vidas. Curiosamente, porém, o líder da Igreja Católica pediu que os jovens se "rebelem" para seguir comportamento mais conservador, em vez de fugir aos compromissos e aproveitar o prazer do provisório – uma referência ao sexo sem matrimônio.

"Há quem diga que hoje o casamento está fora de moda; na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, para sempre, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã", disse Francisco, mais uma vez recorrendo à linguagem coloquial. "Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade."

Em sua fala, o papa também afirmou que Deus faz chamados aos seres humanos para escolhas definitivas. "A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do matrimônio", afirmou.

Sacerdócio

Outro caminho de Deus, disse o pontífice, é o sacerdócio, para o qual, afirmou, "o senhor chama alguns (...) a se doar a Ele de modo mais total, para amar a todos com o coração do bom pastor."

O papa comparou o trabalho dos voluntários na JMJ à "missão de São João Batista, que preparou o caminho para Jesus". Aplaudido com entusiasmo, o papa chegou a perguntar: O casamento está fora de moda? "Não!", respondeu a plateia. Encerrou rezando a Ave Maria e fez um pedido, em tom humilde: "Rezem por mim".

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