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Como são estudadas as mortes no trânsito

Para que uma morte no trânsito não vire só uma estatística, um grupo de técnicos do programa Vida no Trânsito se reúne todas as manhãs de terça-feira na Secretaria Municipal de Saúde. Cada óbito é analisado em busca de explicações. Policiais apresentam os detalhes do acidente, socorristas do Siate relatam como foi a ocorrência e quais ferimentos a vítima tinha; peritos do IML destacam aspectos do laudo, como velocidade e posição dos veículos; e especialistas da Secretaria de Trânsito mostram a infraestrutura do local, com vídeos e fotos. Dados sobre prontuário médico, certidão de óbito, recortes de jornal e depoimentos na delegacia são procurados pelos epidemiologistas.

Com os dados reunidos, os técnicos procuram evidências dos fatores que causaram o acidente. Há teste de bafômetro ou os médicos perceberam hálito etílico? Estava chovendo? O condutor tinha habilitação? A partir dessas informações, foi possível avaliar 85% de todas as mortes no trânsito em Curitiba em 2013. A análise refinada das ocorrências permitiu tirar das estatísticas casos que antes eram registrados como acidentes de trânsito: situações de homicídio doloso (quando se usa o carro como arma para matar alguém), suicídios e mal súbito seguido de morte ainda ao volante. As percepções do grupo de estudo são enviadas a órgãos públicos para tentar reduzir o número de mortes.

Quando os acidentes fatais de trânsito são transformados em pontos no mapa de Curitiba é possível perceber um incômodo-padrão: alguns tipos se repetem, com as mesmas características, mostrando que algo precisa ser feito para que não continuem acontecendo. Além das informações reveladas pelas demais reportagens da série Maio Amarelo – que mostram, entre outros perfis, a predominância de idosos atropelados e de casos de desrespeito à sinalização em acidentes fatais –, o mapa da ocorrência de óbitos em ruas e rodovias da capital evidencia os fatores que contribuem para os altos índices de mortalidade no trânsito.

INFOGRÁFICO: Confira a distribuição geográfica dos acidentes fatais em Curitiba

A Cidade Industrial de Curitiba, por exemplo, vira uma grande "mancha" no mapa dos acidentes fatais. Maior bairro da capital, a CIC concentra 10% da área e também 1 em cada 10 moradores da cidade. Mas quando o assunto é óbito de trânsito, foram 38 casos em 2013 – que representam 17% das mortes de trânsito do ano passado. Boa parte da explicação está no tráfego do Contorno Sul e das marginais. Acontecem mais acidentes fatais na CIC do que no Centro de Curitiba. Há vários bairros com intenso fluxo de veículos, como o Cabral, em que nenhuma ocorrência gravíssima foi registrada no ano passado. Se for traçada uma linha imaginária dividindo a cidade ao meio, a região sul concentraria 64% das mortes no trânsito.

Mas os principais riscos não foram registrados nas rodovias, incluindo a Linha Verde. Foram as ruas e avenidas os locais com mais mortes de trânsito. Os contornos Norte e Leste, inclusive, não chegam a figurar entre os pontos mais perigosos. Já a região do Portão/Novo Mundo, em franco crescimento nas proximidades dos shoppings, também evidenciou a padronização dos acidentes. A concentração de moradores não é uma explicação – ou os bairros Campo do Santana e Tatuquara não teriam mais acidentes que o Alto da XV e o Batel. Há vários espaços vazios no mapa que mostram ruas, por onde trafegam milhares de veículos, em que não aconteceram acidentes graves.

De acordo com o tipo de vítima e o horário, o perfil dos acidentes fatais também muda. De manhã, eles são mais concentrados no eixo central, com predominância de atropelamento e colisão com moto. À tarde, os acidentes se esparramam pela cidade, sem um tipo predominante. À noite, migram claramente para as rodovias. De madrugada voltam a ocupar o anel central, com mais casos de óbito em ocupantes de automóveis.

O mapa das mortes no trânsito de Curitiba serve de alerta para os usuários e de orientação para ações que evitem mais acidentes. Para os motociclistas, a Linha Verde é mais perigosa do que o Contorno Sul. Em um único trecho de 1 quilômetro da Linha Verde, quatro pedestres perderam a vida. Já os acidentes com ciclistas estão concentrados na região sul.

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